Portuguese English French German Italian Russian Spanish
Início > Artigos > O PT de volta às origens

O PT de volta às origens

 

O encontro nacional do PT no Rio deu mostras da profunda consciência das tarefas partidárias para responder à continuação do governo Lula. A legenda tem noção da perda da juventude, bem como da tarefa de voltar a ser partido de massas e de nítida presença no poder. Mas, sobretudo, o que importa é fortalecer a alternativa de mudança que representa, frente ao pântano do aliancismo.


A sideração, por Lula, dos prefeitos recém eleitos, só amplia a tentação do ganho de maiorias, tão decisivas quanto difusas, no novo percurso eleitoral. O importante é caracterizar-se a distinção entre a proposta petista e a social democracia, na promessa da volta tucana em 2002.


O seminário não perdeu tempo em estabelecer essas linhas divisórias, centradas na dominância do papel do Estado no comando da economia da mudança; no caráter estrutural que representa a redistribuição de renda já e de seu complemento pelo acesso imediato aos serviços sociais, na expansão maciça da saúde e da educação. Pouco saiu do papel o projeto das parcerias públicas e privadas. Mas é por elas que o futuro, a longo prazo, do PT, distingue-se das formas de privatização, disfarçadas ou ostensivas, que caracterizaram o tucanato.

 

Divisou-se, no encontro, o risco da quebra da frente sindical, expresso pela desfiliação da Contag, requestionando os pressupostos da fidelidade do aparelho do proletariado ao atual situacionismo. No fundo de toda polêmica levanta-se o contraste entre os 70% da popularidade do presidente contra, praticamente, a metade do percentual estrito no apoio ao partido. E de imediato pergunta-se se a nova demanda de 300 mil possíveis filiados à legenda traduz, apenas, a inércia do que estava aí, ou se, no rigor novo de uma adesão, responde ao fortalecimento ideológico do impulso decidido à mudança do país.


Uma escola de formação partidária vai à pauta das novas prioridades, na busca de uma verdadeira esquerda para o Brasil, resistindo a todos os enleios do aliancismo, que caracteriza a maioria, agora, do governo no Congresso. Claro que todo adensar de pensamento enfrenta a crise global, e as possíveis contradições entre a conjuntura lá fora – e a especial do Brasil – sua tônica de mercado interno, sua relativa independência das exportações; o comportamento dos setores marginalizados trazidos ao mercado pelo Bolsa Família. Cogita-se de como é possível afastá-los da propensão consumista de sempre e definir uma condição de bem estar, nascida da educação e saúde a que se soma um novo plano de habitação popular.

 

O encontro salientou ainda que o aliancismo corre o risco de convívio com o centro pastoso do PMDB. Mas a aposta no sucesso objetivo do PAC, e de como seus resultados já dão outro rumo às prefeituras empurradas pelo sucesso descentralizador deste fim do segundo mandato. Desponta, sobretudo, a objetividade com que a ministra Dilma divisou essas certezas, não só na força dos números do Plano de Aceleração de Crescimento, mas, sobretudo, das reservas que soubemos criar para atenuar a crise externa, desde os montantes de nosso superávit, até as dinamizações das nossas reservas bancárias privadas.

 

A perspectiva geral petista desceu do deslumbramento no poder e, sobretudo, das vitórias a todo custo. Sabe sobretudo por onde avançam, agora, seus novos trunfos, desde a trazida da mulher ao poder na sucessão de Lula até a discussão detalhada do que seja a quota de esforço e de melhorias tangíveis, em que fará frente ao projeto tucano, consciente também da força mediática que este último cercará. O PT que sai da convenção do Rio não é nostálgico nem triunfalista. E sabe da dureza e urgência com que se debruça sobre o novo projeto. E, a esse, Dilma traz a serenidade e os números em dia, no polo oposto de todo “já ganhou” e do estrito carisma do homem no Planalto.


Jornal do Brasil  (RJ), 1/4/2009