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O provão foi para o espaço

 

Quando nasceu a idéia do "Provão", no Governo passado, houve uma grande resistência. Entidades representativas de alunos e professores protestaram contra a sua implantação, no começo meio precária, exatamente porque não inspirava muita confiança. Autoridades do MEC de então esclareciam: "É só o começo do processo. Vamos completar a metodologia com uma série de outros elementos, como o exame de bibliotecas e laboratórios, para que a avaliação seja adequada."


Isso queria dizer, sem que se entendesse muito a razão, que somente a aplicação do "Provão" representaria algo em torno de 22% de um processo completo de avaliação. Nada foi acrescentado à simples prova, com as notas escondidas e os resultados sendo aproveitados apenas para a classificação das instituições de ensino superior. A competição entre elas tornou-se feroz exatamente em função do acirramento oficial. É muito otimismo afirmar-se que, com isso, a educação ganhou qualidade. Quem dispõe da varinha mágica?


O Governo Lula editou Medida Provisória (147) sobre o Sistema de Avaliação do Ensino Superior. Deu novas cores ao processo, mesmo acabando com o "Provão". Um antigo ministro da Educação reclamou que isso não se faz, "os alunos poderão recusar-se a fazer o novo exame e nada poderá obrigá-los." E não foi exatamente o que ocorreu na sua gestão? Inspirados pela UNE, muitos estudantes recusaram-se a fazer as provas - e nada aconteceu. O melhor exemplo é o curso de comunicação social, de avaliação completamente distorcida, inclusive em universidades oficiais. A garotada não quis fazer as provas - e está acabado. Hoje, esses cursos são apresentados com o conceito D e E, sem refletir a realidade de grandes e tradicionais escolas. O Governo anterior deixou ficar.


Num contingente de quase 4 milhões de estudantes, o custo das provas anuais tornou-se impraticável. O que o ministro Cristovam Buarque procurou fazer foi adotar a fórmula do exame por amostragem, cientificamente correto e infinitamente mais barato. Por que, então, o choro das carpideiras pedagógicas? Se existe algum conflito de interesses com o Conselho Nacional de Educação, certamente, com inteligência, será possível aparar as arestas. Desde que a boa vontade prevaleça e não o espírito de vingança, tão lamentável quando se trata de questões educacionais.


Há um fato pouco destacado e que merece ampla reflexão. Nas escolas superiores em que houve provas normalmente, durante a vigência desse exame nacional de cursos, os resultados foram lamentáveis. Viu-se que só o curso de medicina teve conceitos elogiáveis. Estamos formando advogados, administradores, economistas e muitos outros profissionais de maneira precária, no sentido inversamente proporcional ao desejado. É a essa "coisa" que o grupo neoliberal chama de luta pela qualidade de ensino?


Existe ainda para análise a performance dos Centros Universitários. O Governo Lula deu-lhes um prazo mais que razoável para a correção de rumos ou mesmo a transformação em Universidades, valorizando a indissociabilidade ensino-pesquisa e extensão. Em cinco anos poderão cumprir a sua missão, na busca da qualidade do ensino. O resto é choro.


 


Jornal do Commercio (Rio de Janeiro - RJ) em 28/12/2003

Jornal do Commercio (Rio de Janeiro - RJ) em, 28/12/2003