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O povo não saiu da praça

 

Os protestos de 2013 para cá marcaram, irreversivelmente, uma tomada de consciência e uma cobrança dos poderes públicos quanto à melhoria de direitos sociais do nosso tempo. Mas o primeiro balanço dessas respostas fica  longe, ainda, da expectativa do “povo na praça” e de sua possível e imprevisível recrudescência. Demoram, ainda, o reclame elementar do Passe Livre  e o entendimento da corrupção como crime hediondo. O grande avanço, entretanto, foi o da redução das muitas facetas do privilégio parlamentar, sobretudo, o dos votos secretos nas condenações dos colegas pelos seus pares no Legislativo. Perguntar-se-ia, ao mesmo tempo, se mantêm as forças  da ida à rua, ou do “povo na praça”, ou se já grassa o seu cansaço. Enquanto isso, os Black Blocs transformam essas reuniões em estritos espetáculos de violência intransitiva. Paralelamente, uma maturação da consciência cívica parece eclodir, agora, no clamor contra as despesas com a Copa, frente ao que poderia ser um enorme reforço dos dinheiros públicos para a  educação, a saúde e o bem-estar social. Perguntar-se-ia, ainda, se essa disseminação generalizada das greves dos últimos semestres representa o confronto de força, no estrito âmbito do trabalho e do capital, e já a cobrar a presença do subsídio público na composição dessas diferenças. Ou se emerge, de vez, o imperativo da redistribuição fiscal e da melhoria da renda do país, mal egressa, ainda, da marginalidade social.

De toda forma, essa questão-limite não irá à campanha eleitoral, mas, sem dúvida, é prioridade de um governo atento ao imperativo da justiça social e do desenvolvimento. O ponto crítico, entretanto, desde já, é a decisão da Justiça do Trabalho quanto ao próprio limite do exercício do direito de greve, quando atinge, diretamente, a coletividade como um todo nas suas expectativas elementares de bem-estar. Não é outra a greve de transportes como a do metrô, que, embalde, poderia justificar um recurso ao Judiciário, a só mais exigir o passe livre para a nossa população metropolitana. Afinal, o povo não foi em vão à praça, e seu remate, diante da agenda sempre adiada da reforma política, só pode ser o plebiscito, ao início de qualquer novo governo no Planalto.

Jornal do Commercio (RJ), 13/6/2014