Grandes autores têm estudado o Brasil, para procurar entendê-lo. Não tem sido fácil. Deve-se lembrar a frase que se tornou livro de sucesso, de Roger Bastide, “O Brasil é um país de contrastes.”
Em muitos casos, como nas regiões metropolitanas, a opulência convive com a miséria, característica em geral de cidades do interior onde o progresso ainda não deu sinais de presença. Se nossos olhos se debruçarem sobre o Norte e o Nordeste, então, a realidade é entristecedora. Pouco difere, por exemplo, do que a escritora e acadêmica Rachel de Queiroz retratou com muita propriedade no seu livro mais famoso, escrito em 1920, com o título de “O Quinze”, quando aborda um dos maiores dramas vividos pelo povo do Ceará.
Jovem professora de 19 anos, a autora cearense deparou-se com o fenômeno da seca, com todo o cortejo de fome, sofrimento e morte prematura. Hoje parece melhor, mas quem pode afirmar que os grandes problemas foram resolvidos? A seca ainda é um terrível flagelo. Lembro de uma frase de Rachel: “As coisas lá em Quixadá devem melhorar no mês que vem. É o início do nosso “inverno” e deve chover um pouco.” Para os moradores da região, prenunciava-se uma festa.
Por outro lado, no capítulo das etnias, devemos ficar com a peremptória afirmação de Sílvio Romero: “O Brasil é um país mestiço.” Não há mais o conceito de raça – e muito menos o de predomínio de uma etnia sobre outra. Fomos feitos, como povo e nação, por uma saudável mistura de índios, brancos e negros, que deram origem ao que hoje somos.
Nisso, cabe um destaque especial à presença de imigrantes. Por motivos diversos, entre os quais as Guerras Mundiais, transferiram-se para as terras tropicais, em busca de oportunidades de sobrevivência digna. E aqui ajudam o país a crescer, fixando-se em atividades variadas. Quero lhes dar o exemplo do cidadão brasileiro Maron Emile Abi-Abib, filho de pais libaneses (Linda e Emile), que tem hoje seis filhos e 16 irmãos. Começou a trabalhar aos 12 anos e ingressou no Sesc aos 22, para fazer uma bonita carreira.
É curioso como os filhos dos imigrantes, de diversas procedências, integram-se de corpo e alma ao trabalho, como se as suas raízes fossem daqui. Maron é um realizador compulsivo. Foi-lhe determinado por Antonio Oliveira Santos, presidente da Confederação Nacional do Comércio, que se transferisse para Cuiabá, onde instalou o seu quartel-general, em 1996, para construir, no interior de Mato Grosso, um dos maiores empreendimentos do país, em matéria de hotelaria e educação ambiental. Trata-se da Estância Ecológica SESC pantanal, que abriga a maior reserva particular de patrimônio natural do Brasil, criando uma grande consciência ecológica local. São 160 mil hectares. A Escola Sesc, às margens do rio Cuiabá, freqüentada por alunos de diversas procedências, é uma aula permanente de amor à Natureza. Na visita feita, nunca vi tanto jacaré junto, nem borboletas mais bonitas. O que fica nos olhos de cada um, como bem assinalam as sua professoras, é a sensação de que, naquela imensa área do Pantanal, cuja preservação é essencial, tem-se um projeto de grande alcance, motivo de orgulho para todos os brasileiros.
Hoje, o mesmo Maron Emile Abi-Abib dirige o Sesc Nacional, que está construindo na Barra da Tijuca a maior escola-modelo de ensino médio do país, para 500 alunos. A sua fibra e o amor às realizações permanecem os mesmos.
Jornal do Commercio (PE) 23/11/2007