O primeiro dado das eleições municipais é o recorde de abstenção, só comparável aos de vintena atrás. Nenhum nervo de mobilização que prefigure o futuro, num novo jogo de forças partidárias nacionais. O que irrompe, sim, é a força do "povo de Lula", cada vez mais desligado da legenda, e marcando esta virada de página da consciência nacional, desde as primeiras vitórias do PT. De toda forma, derrubou-se, de vez, a miragem do pseudonovo, começada pelo abate de Russomano e, agora, pela liquidação eleitoral de Ratinho Jr., em Curitiba.
Algumas das vitórias, em todo caso, levam ao arranque de formações moribundas, como o DEM, na força que desponta de ACM Neto, em Salvador, e, nessa combinação entre a mudança e a nostalgia do carlismo, na clara vinculação do vencedor com o avô, no terceiro colégio eleitoral do país.
O arranque, de vez, e de fundo, se evidencia com o PSB, de Eduardo Campos, somando ao bastião da maioria das prefeituras pernambucanas Belo Horizonte e Fortaleza. Mas o potencial do neto de Arraes entra logo num perde e ganha, no confronto com Aécio, na cidade-chave de Minas Gerais. Doutra parte, ainda, não são vitórias nítidas de reflexos nacionais, as do PSDB, fora a do Amazonas. É o contraste com mais do que nunca se evidencia, de vez, o descarte do velho Brasil, e das alternativas em que o mascarem os sobreviventes do tucanato o PT, em Goiânia ou em João Pessoa, no acompanhar o aríete paulista de Haddad.
No novo xadrez político nacional, despontam as contradições, entre as condutas locais de partidos, como o de Kassab, contra os candidatos do situacionismo federal, e a sua aliança já proclamada com o Planalto. E, no reflexo para a futura sucessão, mantém-se a força do PMDB, na totalidade dos municípios ganhos, não obstante a perda contundente das prefeituras das capitais, confinadas, agora, a Roraima e ao que, no Rio de Janeiro, multiplica a influência de Eduardo Paes sobre as formações políticas do partido no Rio de Janeiro.
O mais instigante dos resultados do 28 de outubro é a soma algébrica das coligações, numa anulação meticulosa do que se possa ler como novas frentes políticas, nascidas dos laços municipais. No desponte, entretanto, do que se afirmaria como uma renovação ideológica, aí está a primeira prefeitura, a de Macapá ganha pelo PSOL, e a sua quase vitória no Pará, na consciência da áspera luta à frente, em que os sucessores do PT histórico embarcaram nas atuais coligações, com os oportunismos majoritários. De toda forma, e mais do que nunca, o verdadeiro pano de fundo desta ida às urnas é a força do governo Lula e a quase equivalência das aprovações, no país de Lula e Dilma. O PT fica pelo caminho, e o PSOL quer, a prazo, ser o reencontro da pureza política fundadora daquela legenda. Mais do que nunca, entretanto, se evidencia, de vez, o descarte do velho Brasil, e das alternativas em que o mascarem os sobreviventes do tucanato.