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O percento que falta

 

Não podemos ter leituras equivocadas no percento que faltou a Lula no primeiro turno. Ganhará, agora, e de vez, pelo voto - opção de Lula - sobre o voto protesto, ou da indignação do instante. O confronto aí está, puro, muito mais do que entre regiões, na escolha básica entre o país instalado e a nação de fora. A queda do presidente no extremo Sul ou a surpresa de seu declínio no Centro-Oeste já podem refletir os hematomas localizados do país rico, que castiga nas urnas o situacionismo da hora pelos seus desconfortos.


 


O moralismo forrou suficientemente o status quo para que o seu cuidado pudesse prescindir de programas, ou projetos, sem desembrulhar, a qualquer momento, o pacote do desenvolvimento prometido. Não há "sim" à insipidez de Alckmin, mas não a Lula, a ferretear o Brasil instalado dos abastados e da classe média, que deram a chance, meio nariz empertigado, ao "sapo barbudo" em 2002. A reeleição livrou-se da subcultura radical do país, levada, de vez, por Heloisa Helena à enfermaria do inconformismo. É importante que o PSol migre para o voto nulo - e que a reeleição não tenha nada a dever à radicalidade escaldada da nossa subcultura política.


 


A lembrança de Leonel Brizola pauta neste momento o futuro do PDT. Apoiou Lula no último segundo turno, após a disputa, de saída, com o PT. Sem reservas nesta mesma convergência com que um partido, historicamente contra o neoliberalismo, não tem outra alternativa para manter a sua identidade. É legenda consistente, e não viveiro das divas do purismo ideológico.


 


O discurso hoje da reeleição é muito mais o do encontro na larga convergência, a reformar a esquerda do que o do mea culpa dos últimos dias. A mola do novo sufrágio não passará apenas pelos perdões, nem pela volta atrás dos eleitores, do pito do 10 de outubro, como fará Caetano Veloso.


 


O voto contra é cutâneo, onde desfazer-se agora, e não perturbará a mobilização do "país de fora", identificado à Lula, apesar do massacre mediático, e a competência manipulatória da dita opinião pública.


 


O que já conquistou o governo foi, indiscutivelmente, esta política irreversível de acesso que não se pode confundir com o estrito, cediço e sovado assistencialismo.




Deste empenho nasceu, e cada vez mais, o povo de Lula, a partir da capacitação política que permite o voto no imediato despertar da cidadania. Logrou-a este impulso do mesmo povo que se identificou com a imagem do Presidente. Ela permanece, para além do partido, neste impulso que levou aos 48.6% de votação, vencendo a manipulação mediática e o denuncismo.


 


Chegou aos seus limites esta última ditadura o status quo, tanto o denuncismo não pode sobreviver ao fato novo no governo Lula: o inédito respeito à ação policial à autonomia das investigações, sem apadrinhagens nem ameaças do poder.


 


A diferença mínima no primeiro turno não é "o começo da queda", como quer Alckmin, de um Lula que teria perdido a chance. A mensagem é, mais que nunca, prospectiva. A do Lula que fez e, de vez - sabe o seu povo - e pode fazer mais.


 


O Nordeste que votou avassaladoramente no petista foi também a região que mais ficou em casa dando o ganho por favas contadas. O Brasil instalado já foi todo à rua para votar contra Lula. O país de fora só tem agora que por seu voto na urna.


 


Jornal do Commercio (Rio de Janeiro) 06/10/2006

Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), 06/10/2006