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O Partido de Benfica

 

Se fossem criminosos comuns de facções rivais, seria arriscado juntá-los na mesma prisão, pois poderiam partir para desforras e violentos acertos de conta. Mas como se trata de importantes políticos e empresários envolvidos em corrupção, entre os quais três ex-governadores e um presidente afastado da Alerj, o risco é fundarem um novo partido, o Partido de Benfica. Afinal, é um negócio que, como eles sabem por experiência própria, rende mais em dinheiro e poder do que qualquer inimizade que, facilmente, se transforma em amizade, e vice-versa, como, aliás, é o caso. Atrás das grades, eles vão concluir que tudo os une, só a Lava-Jato os separa. 

O próprio Garotinho já deve estar arrependido de ter festejado pelas redes sociais a condenação de Jorge Picciani, Paulo Melo e Edson Albertassi. Quando anunciou — “ainda não terminou a faxina. Faltam outros setores envolvidos com essa safadeza” —, mal sabia ele que, dez horas depois, chegaria a sua vez de ser incluído na faxina. O engraçado é que, tendo considerado justa a prisão dos três, ele classificou a sua de “perseguição”, bem a seu estilo: desonestos são os outros. Ontem à noite, por exemplo, ele seria transferido para Bangu 8, depois de alegar ter sido espancado na cela, embora as câmeras tenham desmentido essa versão. E se tivesse continuado em Benfica, como ele e Cabral se comportariam nos banhos de sol? 

O que deveria prevalecer nas novas relações, a lembrança dos tempos em que eram aliados ou a mais recente, de desafetos? É possível que, serenados os ânimos, eles preferissem planejar para ambos um futuro político comum.

Ah, se uma câmera escondida pudesse captar algumas das conversas ao sol desses 16 membros (sem contar Rosinha e Adriana Ancelmo) da quadrilha que, nas últimas décadas, assaltou os nossos cofres públicos. Acho que, antes de se acertarem, haverá muita cobrança: “e a grana que você deixou de me pagar?” “E os 5% daquela obra que você ficou me devendo?”. Já imaginaram esse piquenique de corruptos e corruptores, esse recreio com Jacob Barata, Lélis Teixeira, Sérgio Côrtes, Picciani pai e filho etc. etc.? 

Confirmando a impressão manifestada aqui na quarta-feira, de que na política do Rio quem não está preso é porque vai ser ou já foi, fala-se que a cadeia de Benfica não fechou as portas, estaria aguardando ainda a chegada em breve de pelo menos outro hóspede ilustre, que acaba de ser acusado de receber propina no valor de R$ 450 mil. Se essa informação se confirmar, o PDB corre o risco de se transformar no mais representativo partido desse nosso triste momento.

O Globo, 25/11/2017