Continuo desmotivado em matéria de eleições, inclusive a sucessão presidencial. Acho sacais as entrevistas, análises e pesquisas que entopem os chamados veículos de comunicação: TV, jornais e revistas. E agora a internet. Uns pelos outros, dão mais palpites do que informações.
Em linhas gerais, há centenas de candidatos a isso ou àquilo, que procuram alianças e apoios, sobretudo procuram financiamentos para quando chegar a hora de botar o bloco na rua. Chamam de "palanque" o resultado dos acordos e perspectivas. É a rotina que mais uma vez prevalecerá.
Esta rotina nada tem a ver com a ideologia, o partido, o passado, o presente e o futuro dos candidatos. A TV -pautando a imprensa escrita e falada- será o palco e o tribunal definitivo da luta eleitoral. Quem se sair bem do ponto de vista da massa ganhará as batatas.
Evidente que os produtores, marqueteiros, conselheiros disso e daquilo e até os iluminadores e maquiadores serão peças importantes neste autêntico "big brother" programado para outubro próximo.
Teremos a maratona que desfilará pela TV falando em bons costumes, em pleno emprego, em liberdade de expressão, em justiça, em honestidade -de certo modo, todos falarão a mesma coisa, mas o eleitor de hoje é, em essência, um telespectador que deseja participar do show.
A TV, por sua natureza, transforma tudo em espetáculo. Não importa o que seja dito ou prometido. Muito menos importará se o candidato é confiável ou não. Haverá tempo para a implantação da ficha limpa? Tudo dependerá da produção, daquilo que se chama "química" entre o ator e a plateia.
O próximo presidente do Brasil será escolhido por um contingente eleitoral que se habituou a pouco pão e muito circo.
Folha de S. Paulo, 13/5/2010