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O nome dela é Barbra

 

Barbra Streisand acaba de lançar sua autobiografia, "My Name is Barbra", ainda sem edição brasileira. Saiu nos EUA pela Viking Press e tem 970 páginas. Sou fã de Barbra, tenho curiosidade por ela e pensei em encomendar o livro. Mas a perspectiva de que, pelo peso, tivessem de fretar um transatlântico para trazê-lo e isto me custasse as calças, me fez desistir. Por sorte, ganhei-o de um amigo que o trouxe de Nova York, pagando excesso. A capa é um belo close de Barbra, realçando o nariz que, como conta no prefácio, escrito por ela, a fez ouvir chacotas desde que nasceu e que, por isso mesmo, nunca sequer cogitou operar.

Tanto quanto o nariz, faz parte da personalidade de Barbra não se curvar para ninguém. Ao contrário, desde o começo, em 1962, aos 20 anos, ela é que dobrou à sua vontade os empresários, gravadoras, maestros, diretores de cinema, estúdios e maridos. Foi dela a palavra final em tudo o que fez, correu os riscos e venceu. E agora nos brinda com sua vida em quase mil páginas.

Que vida é esta que justifica um livro tão grande? Do ponto de vista comercial, é arriscado: quanto maior o livro, mais caro custa, o que influi nas vendas. Além disso, sabendo-se que a maioria das pessoas prefere ler na cama antes de dormir, um volume dessas dimensões pode ser mortal. Se o leitor cochilar, ele cairá de suas mãos e lhe partirá uma ou duas costelas. Pois a Viking aceitou e ainda permitiu a Barbra fazer o design da capa. É provável que ela tenha escrito também o texto das orelhas.

Como biógrafo, não costumo levar muito a sério as autobiografias. Os biógrafos ouvem cerca de 200 pessoas para contar a vida de alguém. O autobiógrafo ouve apenas a si mesmo, e sua memória será inevitavelmente seletiva. Mas, num livro desse tamanho, Barbra, quem sabe, pode ter contado tudo. É o que vou descobrir assim que, um dia, acabar de lê-lo.

Comecei ontem.

Folha de São Paulo, 10/08/2024