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O mundo não vai acabar

 

Durante algum tempo, trabalhando na "Manchete", fazia previsões para o primeiro número de cada ano. Já tinham inventado um tal de Allan Richard Way, um indiano que morava em Londres numa casa em estilo Tudor. Acrescentei ao personagem um detalhe esclarecedor: era o único vidente cego da história humana.

Por mais delirantes que tenham sido suas previsões, volta e meia ele acertava, apesar de os leitores saberem que se tratava de um chute bem humorado da Redação. Mesmo assim, houve um ano em que ele previu um acidente na ponte Rio-Niterói, uma das pilastras estaria desabando. O Ministério da Marinha passou quase uma semana testando sinais de corrosão, pilastra por pilastra. Um jornal aqui da praça chegou a pedir que as autoridades interditassem a ponte.

Este tipo de brincadeira não seria possível num órgão como a Folha, que tem na credibilidade uma de suas pilastras. Acontece que a sabedoria dos maias previu o fim do mundo para o ano que acabou, de maneira que minha previsão mais séria garante que em 2013 o mundo não acabará.

Desprezando a cultura milenar dos maias (nada a ver com o nosso César Maia), deve-se fazer a previsão de coisas que não acontecerão no ano que hoje começa. Lula não recuperará a bela barba que o tornou símbolo nacional, os estádios e aeroportos para a Copa do Mundo não estarão prontos, o papa não morrerá, apesar de estar bastante avariado e, sobretudo, os ossos de Dana de Teffé não serão achados, nem a Comissão da Verdade encontrará os ossos de muitas das vítimas desaparecidas.

Outras coisas que não acontecerão, mas deviam acontecer: o deputado Tiririca cantará no Covent Garden, a Madonna se retirará para um convento no Tibete e o ministro Joaquim Barbosa não ganhará o prêmio da Paz.

Folha de S. Paulo (RJ), 1/1/2013