Impossível não ser marcada por um livro, lido aos 20 anos, que começa assim: "O único problema filosófico realmente sério é o do suicídio. Decidir se a vida vale ou não vale a pena de ser vivida".
Um livro cuja leitura, em seguida, cumpre a promessa desse início.
Ao fazer de "O Mito de Sísifo" o ponto de partida para examinar o sentido da existência (ou sua falta), Albert Camus (1913-60) destaca o absurdo da experiência de viver. Nesse absurdo, a inteligência se alimenta - .desesperançada, mas consciente da desesperança. Cheia de dignidade. E de revolta. Movida pelo ímpeto de dizer não.
Citei esse livro porque tinha que escolher. Podia também ser "O Homem Revoltado", que o completa. Volto sempre a Camus. Dei seus livros a meu pai e a meus filhos. Suas reflexões sobre arte, ética, liberdade, justiça têm ajudado a me nortear ao longo da vida. E como escrevia bem! Que prazer nos dá a luz poética de seu texto!
No 11 de Setembro, enquanto assistia pela televisão à queda das torres gêmeas, não conseguia deixar de pensar, com ele, na primazia da moral sobre a própria noção de revolta. Em minha memória, uma frase garantia que uma causa que utiliza meios injustos deixa de ser justa. Palavra de Camus.
Folha de São Paulo (São Paulo) 12/2/2006