Vimos, no episódio da escolha de ministros, prometida por Lula, que o presidente da República não estava, como ele mesmo supunha, preparado para o exercício da presidência da República.
Dissemos, fazendo "blague", que Lula deveria ter feito um estágio de dois a três meses em Minas Gerais, para aprender o exercício da política. Seriam rudimentos, mas já daria para evitar nele os tropeços que são constantes. Desde o dia em que gritou, para ser ouvido pelo mundo inteiro, o seu brado contra a fome, hoje completamente esquecido, inclusive pelo próprio autor.
O presidente Lula afirmou aos meios de comunicação que a reforma ministerial está feita, e nada mais há a fazer. Teve, portanto, o supremo poder da República perto da montanha. Fez-se praticamente nada, num setor que não dará cobertura política a Lula, como ele, evidentemente, espera de seu novo colaborador.
O presidente, que já recebeu críticas até de dom Paulo Arns, seu amigo do peito e seu conselheiro, o presidente ainda tem muito o que aprender antes de praticar os atos que refletem na sua personalidade de primeiro mandatário ou primeiro magistrado da nação.
A reforma ministerial teria e tem de ser feita, pois assim a inspiram as sucessivas crises no topo do mandato presidencial. Também no Legislativo há necessidade de reforma, mas nessa o presidente Lula não vai tocar, pois a Câmara dos Deputados está nas mãos de Severino Cavalcanti, que deve ter plano para executar em favor de sua carreira política.
Quanto ao Senado, está nas mãos de um político com treino constante, e José Sarney, que tem a velha escola da UDN dos tempos da banda de música e os tempos seguintes, até hoje. Não será fácil, ao contrário, será muito difícil entrar nessa seara sem os predicados políticos que outros possuem e usam. Como se vê, a situação de Lula é difícil.
Foi, provavelmente por isso que José Dirceu, futuro candidato a presidente da República, comparou Lula a Moisés, o bíblico, sem que essa escolha histórico-religiosa repercutisse além de modestas manchetes nos jornais e alguns segundos nos jornais da televisão.
Mas, de qualquer maneira, vemos que os companheiros de Lula estão se esforçando por mantê-lo no alto de seu posto, vendo de longe o que se passa na nação continental que é o Brasil, com seus numerosos programas.
O que podemos afirmar é que os acontecimentos não estão sendo favoráveis a Lula, ao menos na Câmara e no Senado, com repercussão na mídia. Que é severa.
Diário do Comércio (São Paulo) 31/03/2005