É difícil chegar a uma conclusão sobre a influência das pesquisas no processo eleitoral. Há opiniões conflitantes mas todos concordam que é fato novo, benéfico ou nocivo, mas realmente novo. Honestas ou manipuladas, elas adicionam um "plus" na hora do cidadão votar. E antes da hora decisiva, elas promovem um vendaval na campanha, ora prejudicando, ora ajudando os candidatos.
Lembro duas eleições antigas, em que o eleitorado se dividiu entre os pretendentes ao trono, sem a influência das intenções de voto antecipadas e muitas vezes provisórias.
Em 1946, se houvesse pesquisa, o brigadeiro Eduardo Gomes derrotaria o general Eurico Dutra. Em 1955, Juscelino e Juarez Távora dividiam o eleitorado na base do meio-a-meio. Quem votou num e noutro devia saber o que estava fazendo.
Pelo menos no aspecto financeiro das campanhas as pesquisas atrapalham ou ajudam. Os patrocinadores desaparecem quando o candidato desaba na pontuação, ninguém deseja gastar boa cera com mau defunto. Não é nada, não é nada, mas por melhor ou pior que seja o pretendente, sua cotação na bolsa é mais decisiva do que suas qualidades e defeitos.
Compara-se cada vez mais o jogo eleitoral com o futebol. Suponhamos que numa determinada final de Copa do Mundo, de 10 em 10 minutos, a partida fosse interrompida por uma pesquisa-relâmpago para se saber quem estava melhor em campo, quem devia vencer ou perder.
Até que ponto isso teria influência no resultado final? Digamos que, no segundo tempo, um time abrisse uma diferença de 25 pontos sobre o outro. Haveria clima para uma reação, uma reviravolta no placar?
E o pior não seria isso. O jogo em si perderia interesse e importância. As torcidas se deslocariam, não incentivariam os jogadores mas os próprios torcedores, obrigando-os a votar assim ou assado. O mérito real perderia para o crédito momentâneo.
Jornal do Commercio (Rio de Janeiro - RJ) em 29/09/2002