O escritor italiano Umberto Eco considera que o livro permanecerá para sempre no conjunto dos materiais pedagógicos. Sua tese avança na idéia de que tudo poderia melhorar muito se produzíssemos livros baratos, sem tantas cores exuberantes. Seriam em preto e branco, utilizando computadores de baixo preço.
Assim, as cores seriam buscadas na internet, numa programação didática, produzindo uma oferta dual de acesso ao conhecimento. Cores só na internet.
É certo que existe um vácuo jurídico nas relações entre telecomunicações e radiodifusão. Perdida a chance de promover o ajuste necessário, na Constituição de 1988, o assunto perdura, enquanto nos aproximamos da hora da verdade: a definição do momento em que a TV Digital começará a funcionar em nosso País.
O ministro Hélio Costa, convidado pelo Conselho de Comunicação Social do Congresso Nacional, discorreu sobre a matéria. Na sua opinião, o sistema vencedor será aquele que ofereça as melhores ferramentas para que o Brasil se beneficie deste avanço. Em discussão, os sistemas europeu, americano e japonês. A decisão não deverá passar do início de 2006, propiciando parcerias variadas entre as TVs abertas e as operadoras existentes.
O tema dos temas, por convicção dos especialistas, é o destino do conteúdo. A TV aberta precisa de regulamentação com a chegada do mundo digital, que será o começo do fim dos procedimentos analógicos, hoje superados em preço, precisão e tamanho. Assim se buscará com mais facilidade a integração nacional, posto que não se discute o caráter pouco democrático do analógico, separando o nosso povo entre os que podem e os que não podem pagar. A questão torna-se ainda mais delicada quando é sabido que o poder econômico que domina essa tecnologia está situado fora dos limites do Brasil. Para sermos mais precisos, nas nações pós-industrializadas, beneficiadas por largos investimentos na Sociedade do Conhecimento.
As linhas de ação brasileiras são dificultadas por obstáculos objetivos, como a falta de leis sobre o emprego do satélite, em que não há restrições, que recaem somente sobre a TV a cabo. Aliás, estranha-se por que os limites da TV a cabo não tenham sido estendidos à TV por assinatura.
Hoje, a transmissão de conteúdo é prerrogativa das emissoras abertas, ficando de fora as empresas de telecomunicações e de informática. Há muita gente, nesse emaranhado legal, confundindo conteúdo com plataforma (meios). Entendemos que se deva regulamentar o que se entende por conteúdo nacional, defendendo os nossos valores, que não podem ser sacrificados em nome do avanço científico e tecnológico que, todos sabemos, é de incrível rapidez. Já se decretou a morte do videocassete, sobrevivendo o CD e florescendo agora o DVD.
Devemos educar o povo para curtir a sua cultura, com boas e plausíveis parcerias. Se a produção destina-se a milhões de brasileiros, em número crescente, é preciso proteger em primeiro lugar a língua portuguesa, a nossa cultura e a questão da diversidade regional. Não será jamais defensável uma programação de características alienígenas ou pasteurizada, sem levar em conta as incríveis diferenças que marcam o País.
Há siglas de brigas e incompreensões, como é o caso do Fust, recursos pensados para a inclusão social, do Fustel, etc. É tema que não deve escapar da argúcia dos membros do CCS, cujo plenário se prepara para discutir com determinação o assunto.
Jornal do Commercio (Rio de Janeiro) 19/2/2006