Fui mexer numa pasta antiga, procurando um texto que o Otto Maria Carpeaux escreveu e não conseguiu publicar num dos suplementos literários da época. Devolveram-lhe o artigo com um conselho: que o autor mudasse de opinião sobre determinado livro que acabara de ser lançado.
Não encontrei o texto (estava em outra pasta), mas um recorte de revista (também daquele tempo), com a pesquisa de uma universidade norte-americana revelando que um homem comum, vivendo a média de 68 anos (expectativa de vida na época), teria direito a 1.850 relações sexuais bem-sucedidas, não explicitando o tipo de relação, se homo ou heterossexual, anal, oral ou convencional.
Até hoje não sei como são feitas tais e tantas pesquisas. Lembro que Negrão de Lima, ao tomar posse na prefeitura do então Distrito Federal, foi informado pelo secretário de Saúde que na cidade havia 4 milhões e tantos de ratos, na base de um rato para cada habitante. Negrão ficou admirado: "Puxa! Não sabia que havia tantos! Agora me explique, como é que vocês contam os ratos?".
Se lembro o pasmo do ex-prefeito e ex-governador da Guanabara, lembro também que, ao tomar conhecimento da pesquisa, tentei colocar-me dentro do contexto pesquisado. Tinha a metade da idade-limite, por conseguinte, teria tido direito até aquela data à metade das 1.850 relações, as normais e as anormais.
Foi um dos trabalhos mais cansativos e inúteis a que me dediquei. Não havia computador ainda, fiz os cálculos na base daqueles quadradinhos que marcam o escore das partidas de vôlei, cada um deles com cinco tracinhos. Enchi alguns cadernos, mas desanimei de forçar a memória, que é parcial e seletiva como sempre. Não cheguei a um número apreciável.
Por acaso, os cadernos estavam juntos com o recorte da revista.
Pensei em continuá-los com os acréscimos posteriores, mas achei que não valia a pena e o tempo.
Folha de São Paulo (São Paulo) 25/1/2006