Pelos meus cálculos, que nunca são confiáveis, agosto termina hoje. Com sua fama de trazer azar e promover desgostos, criou alguns casos por aí, mas um único fatal, pelo menos até segunda ordem: morreu a Velhinha de Taubaté. Não de causas desconhecidas - como disse o Veríssimo, que deveria saber melhor do que todos nós -, mas por falência múltipla de órgãos.
Além dos órgãos que todos trazemos desde o momento de nossa concepção, recentemente a Velhinha havia acrescentado a seu combalido organismo mais três órgãos em forma de Comissões Parlamentares de Inquérito, que parecem estar a caminho da falência.
Houve o discurso de Lula, dizendo-se traído não se sabe por quem nem por quê. Declarou-se indignado e lamentou o que está acontecendo. Volto a lembrar aquele filme de Kubrick em que uma fortaleza voadora desgarra-se de sua esquadrilha e dirige-se a Moscou para jogar uma bomba atômica naquela cidade. O presidente dos Estados Unidos telefona para o presidente da União Soviética e pede desculpa: "Lamento, meu amigo!".
O presidente da URSS, furioso, berra do outro lado: "Eu lamento mais do que você!". No caso de Lula, estamos mais indignados e lamentamos mais do que ele.
O legado que agosto nos deixa é o da confusão, ou melhor, da expansão da confusão -parece um paradoxo e vai ver que é mesmo. Não apenas as CPIs entraram em crise, disputando os escândalos mais suculentos. Disputam territórios e exposição na mídia. A questão fundamental é saber de onde veio o dinheiro que lubrificou a corrupção. Veio de fora? Do próprio governo? Da caixinha dois dos bancos e empresas multinacionais? Do tráfico de drogas? Do colchão do Severino, que ali guarda os seus trocados?
Capangas e intermediários de vários tamanhos e feitios são descobertos a cada dia. Nenhum deles, isoladamente ou em quadrilha, tem cacife suficiente para bancar tanta e tamanha corrupção.
Folha de São Paulo (São Paulo) 31/08/2005