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O Lázaro paulista

 

Vivemos uma época maravilhosa. O único ressuscitado da história foi Lázaro, que era amigo de Jesus e recebeu a ordem: "Levante e ande!". O próprio Cristo ressuscitou, mas não conta, era mais Filho de Deus do que Filho do Homem.


Dois eventos assim formidáveis atravessaram os séculos e, ao que se sabe, sem repetição em nenhuma parte do mundo. Menos no Brasil, onde a ressurreição de um morto é acontecimento banal, que se repete toda vez que há eleição estadual ou municipal em São Paulo.


Já li uns 56 epitáfios de Paulo Maluf, escritos ou proclamados por gente séria, que constata o seu óbito de forma inapelável. Nem jornais, rádios e TVs atuam com eficiência em certas camadas da população, daí que a cada eleição, para prefeito ou governador de São Paulo, considerável parcela de eleitores pense que ele ainda está vivo, declare sua intenção de voto em Maluf e a concretize nas datas marcadas pelo calendário eleitoral.


Justiça e polícia já provaram que o homem tem contas na Suíça. Foi acusado de ter um filho ilegítimo. Fala pelo nariz, fez obras faraônicas, tem um jeito arrogante de tratar os rapazes e as moças da imprensa. Além do mais, toca piano muito mal. Tudo o que há de reprovável em São Paulo e no Brasil de certa forma é atribuído a ele.


No entanto, ele continua como vivo, dentro do prazo de validade, toda vez que se convoca o povo para nova eleição. Atribuem a ele os viadutos, as avenidas, os túneis, a capital paulista é intrafegável, mas os motoristas de táxi acham que sem Maluf a cidade teria dado um nó, paralisada pelo pó monstruoso de um congestionamento definitivo.


Agora mesmo ele embolou nas pesquisas com duas vestais da política nacional, a atual prefeita e o ex-ministro da Saúde. É quase certo que não acabe vencendo na reta final, haverá como sempre uma aliança do bom senso contra ele, as reservas morais de São Paulo não permitirão a catástrofe.


 


Folha de São Paulo (São Paulo - SP) em 31/03/2004

Folha de São Paulo (São Paulo - SP) em, 31/03/2004