No rastro dos escândalos da Lava Jato, foi revelado que um ex-deputado teria recebido o auxílio de US$ 120 mil para a sua campanha eleitoral. Através de gravações telefônicas, troca de e-mails, ficou clara a mecânica dessas contribuições. O candidato ao Congresso se queixa ao candidato presidencial de que está sem verba para azeitar a campanha, recebe a promessa de uma ajuda, dias depois o tesoureiro da campanha presidencial discute o "quantum" e estabelece as prestações, fazendo uma única exigência: o destinatário deverá telefonar a um empresário de uma empreiteira agradecendo a colaboração, mas sem entrar em "detalhes".
Tudo foi feito à risca, o candidato agradeceu os dólares e os recebeu a tempo de lubrificar a campanha. Ficou a dúvida: o candidato recebeu apenas US$ 120 mil, mas agradeceu a colaboração "sem entrar em detalhes", onde a suspeita: ele poderia ter agradecido a doação de um milhão de dólares embora só tenha recebido 120 mil.
Mas, de repente, com pequenas variantes de "detalhes", verifica-se que todos os candidatos, de todos os partidos e em todas as épocas assim agiram. Os partidos são pobres: em suas sedes esquálidas, os telefones são desligados por falta de pagamento. Contudo, durante a campanha eleitoral, os candidatos gastam fortunas e precisam gastar cada vez mais.
Sabemos que as eleições presidenciais têm campanhas bem acima das possibilidades das burras partidárias. Já foi dito que todos os regimes políticos são ruins e que a democracia é apenas o menos ruim. O processo eleitoral que forma e formaliza o regime democrático tem um aleijão inamovível.
Ser eleito presidente é façanha que custa muito dinheiro dos outros. E esses "outros", mais cedo ou mais tarde, de uma forma ou outra, exigem pagamento.