"O mal grandíssimo e irremediável das instituições republicanas consiste em deixar exposto à ilimitada concorrência das ambições menos dignas, o primeiro lugar do Estado, desta sorte o condenar a ser ocupado em regra pela mediocridade". Rui Barbosa proferiu esse julgamento da República, hoje de Luís Inácio Lula da Silva, com seu verbo de fogo, e até hoje não surgiu ninguém para o contestar, mas, ao contrário, a cada sucessão se confirma o admirável julgamento do grande tribuno e figura solar da cultura brasileira.
Escrevi há dias, nesta coluna, que li na coluna do meu colega de jornalismo Clovis Rossi, que o cardeal arcebispo, hoje em disponibilidade, Dom Paulo Evaristo Arns, escreveu um artigo sobre Lula argüindo-o de inadaptado por deficiência intelectual no cargo supremo de presidente da República. O antigo cardeal arcebispo de São Paulo sempre foi amigo de Lula. Seu ponto de vista é, portanto, de um amigo, mas, acima do amigo, de um brasileiro que ama sua terra e a quer destacada entre as nações, pelas suas instituições e pelos seus homens públicos.
Infelizmente, como acentua Rui Barbosa, o regime não é provido dos melhores valores do país, mas dos que recebem mais votos de um grande colégio eleitoral, recrutado pelos partidos sem nenhuma consideração com as supostas qualidades pessoais do futuro candidato à presidência. O resultado não poderia ser diferente. Lula se expressa, de resto com abundância de palavras, muito no estilo de seus amigos da América ibérica, e nada fica do que falou, sem ação uma ou outra afirmação, que não muda o quadro político no qual estamos todos inseridos, a maioria com tremendas dificuldades para viver, constituir família e educar os filhos.
Defendi, e ainda defendo, pois seria tolo, nesta altura da vida, mudar o que sempre me preocupou relativamente à sorte do país, defendi e defendo um regime monárquico parlamentar, com um governo como o teve o Império, com dois partidos revezando-se no poder e equilibrando-se em número de vezes, uma das quais de Conciliação. O Poder Moderador seria arbitral, governado o Brasil com um Conselho de Estado, com finalidade de ser também constitucional. Mas essa utopia não será para hoje, nem para o futuro próximo e nem para os meus dias. Enquanto isso, vamos caminhando na história como nos preveniu Rui Barbosa, com sua experiência de homens públicos, de instituições republicanas e das necessidades institucionais do país.
Diário do Comércio (São Paulo) 13/12/2004