Como título de livro, sobretudo de romance, nada mais estimulante e politicamente correto do que "Grandes Esperanças". Não vem ao caso lembrar Dickens, que, além de bom romancista (sem ser exatamente genial), parece que era um homem bom, pelo menos a julgar pela obra que deixou.
Um órfão (sem estar necessariamente perdido na tempestade), uma lareira, a noite de Natal e ele fazia uma bonita história, que comovia e comove até hoje seus leitores.
Sempre me perguntei o que seriam as grandes esperanças, não as de Dickens, mas as esperanças de todos nós, que bem ou mal temos algum direito a elas. No caso específico das nações, e penso gravemente e por gravidade no Brasil, temos motivos para esperanças, mesmo sem serem grandes, mas pequenas ou médias?
Examinando o futuro próximo, as eleições presidenciais e a Copa do Mundo, é natural que apoiemos nossas esperanças no que já sabemos e podemos prever. A Copa pode ser nossa -a julgar pelas outras, chegaremos lá.
Já a sucessão presidencial, com base nas mesmas coordenadas do nosso futebol, sabemos que será enigmática - para dizer o menos. Se nossa tradição no futebol é vencer, nas sucessões presidenciais geralmente andamos para trás. A deste ano ameaça ser mais um passo certo na direção errada. Pessimismo é para essas coisas.
Deixando para lá as nações e ficando nos indivíduos, a esperança é a virtude sem a qual estamos todos condenados ao inferno. Citei Dickens e citarei Dante. Ele colocou na porta do inferno o "deixai toda esperança, oh vós que entrais!". Grandes ou pequenas, elas nos dão um motivo para suportar o mundo - e estou citando um outro poeta.
Não precisamos de fogo, demônios com chifres e tridentes, caldeiras, a parafernália medieval que descreve o inferno, inferno que não são os outros, mas somos nós mesmos quando perdemos a esperança.
Folha de São Paulo (São Paulo) 6/2/2006