No quadro geral de abate do regime, cresce o ímpeto de desmoralização de Lula, na insistência – trazida à opinião pública – dos possíveis indiciamentos na esteira da Lava Jato.
Descarta-se, por aí mesmo, o vínculo do petismo com o “Brasil de fora”, imune às cargas do moralismo do país instalado. Subestimam-se a importância do Bolsa Família e o impacto desses 40 milhões de brasileiros trazidos à economia de mercado. Por força, a amplitude dessa redistribuição de renda terá já permitido a um setor crescente dos seus beneficiários chegar à baixa classe média e se sensibilizar, por aí mesmo, com o moralismo, no repúdio à apropriação dos recursos de economias públicas pelos protagonistas do sistema no regime da propina, globalmente instalada.
Esse sentimento não atinge, entretanto, o “povo de Lula”, nesse liame que é o da própria identidade do país emergente. Reforça-se, sobretudo, esse enlace por não ter o partido uma renovação de lideranças ou figuras rivais, nas duas décadas de protagonismo nacional do PT. Deparam-se, sim, o enraizamento mítico da figura do ex-presidente, bem como a torna de consciência da chegada única ao poder do “outro Brasil”.
A retórica do moralismo vai ao óbito das usuras governamentais, que atinge todo exercício do poder, inevitável no chegar-se a um quarto mandato. A crítica que venha a atingir o regime de Dilma não impacta o Brasil “de fora”, nesse acordar fundador da saída da marginalidade radical, na “virada de página” do país do status quo. E é significativo que as tentativas de revisionismo de alguns dos pró-homens da legenda, como Tito Costa ou Hélio Bicudo, não tenham encontrado um lastro de seguidores nesse mea culpa chegado ao coração do PT. Tal como não prosperou qualquer impulso de uma sigla sucessora do partido surgido no lance histórico dos municípios paulistas onde ganho voz o proletariado brasileiro. Em vão, as oposições, agora, poderão ambicionar a volta a um marco zero, no jogo perempto de situacionismo e oposição. O mito Lula não se desconstruiu com o moralismo, tanto é o símbolo, sem volta, de um Brasil sem excluídos.