O começo de 2008 tem os anticlímaxes de uma volta ao marco zero, pela correção de rumos da iniciativa governamental no momento do arranque do PAC. Só vão se agravar as culpabilizações recíprocas pela perda da CPMF, na retroavaliação do lance.
Não se deu conta ainda a oposição de que não derrotava, à última hora, o Planalto senão pelo quórum especialíssimo das emendas constitucionais, e não das largas maiorias de que dispõe para a rotina legislativa. O tucanato e seus aliados se depararam com o castigo de um sucesso fantasma, mais que até de uma vitória de Pirro, pela diferença mínima em que barraram a medida essencial para o financiamento da saúde, no quadro da aceleração do desenvolvimento.
A FIESP, ecoando a vitória contra a CPMF e a perda aparente de Lula, reconhece o quanto as medidas corretoras vão, afinal, onerar mais o sistema do que o imposto do cheque. Impactarão, por aí mesmo, em golpe muito maior que o tributo abatido, já objeto da nossa cultura de acomodação à capacidade fiscal do país.
O punhado de votos que forçou a entrada do governo no breu das correções de rumo pela perda da CPMF traduz a tentação pelo imediatismo político, à custa de medida econômica, já no bojo do sistema e exatamente por iniciativa anterior do tucanato. A derrubada da CPMF não vai ao ativo histórico do PSDB, e é significativo o quanto as visões de longo prazo de retorno ao poder não capitalizarão sobre o voto do 15 de dezembro.
É nesse mesmo horizonte que Fernando Henrique procura uma volta aos trilhos da iniciativa nascida no seu governo, e ora descartado pelo açodamento político que não aproveita nem a Serra, nem a Aécio. A oposição só se reapetrecharia, entretanto, de real poder de fogo, se o governo entregasse os pontos quanto ao rombo na área de saúde, e se visse diante da nação desarmado, sem alternativa, frente à desaparição do imposto sobre o cheque.
De par com o superar-se toda cultura de tolerância à inflação – na crescente maturidade cidadã de hoje em dia – desperta a consciência da nova escaramuça feita à capacidade tributária do país. Em conhecimento dos denominadores máximos em que implicou a proposta do “plano B”, o governo assinalou o quanto ainda pôde resistir à ruptura da presente “paz fiscal”, mantida sem mossa pela conservação da CPMF. Mas quando, nas novas alternativas, aponta ao imposto sobre as grandes fortunas, desestabiliza a expectativa tributária do establishment, cujo regime foi assumido no quadro do PAC e seus resultados, para o prazo médio da expansão da economia brasileira.
A quem aproveitou a queda do imposto do cheque? Que novas polêmicas desnecessárias reabriu? Como se verão logo atingidas as expectativas de emprego e aumento da máquina pública? O que trarão de cortes sucessivos os 40 bilhões subtraídos da arrecadação federal? A oposição, a partir de quem liderou o 15 de dezembro, tem prazo muito curto para repor-se ao que espera a política da mudança, sob pena de cair já no impasse de um golpismo muito, muito antigo, para o Brasil que desperta.
Jornal do Commercio (RJ) 11/1/2008