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O império brasileiro e seus fotógrafos

 

Paris continua em festa. Apesar do calor intenso, estranho até para os cariocas da gema, os eventos se sucedem, no que se convencionou chamar de "Ano do Brasil na França". Somos testemunhas de que centenas de visitantes compareceram à exposição "O Império Brasileiro e seus Fotógrafos", no Museu Quai D"Orsay.


A expressiva coleção pertence hoje à Biblioteca Nacional e ao Instituto Moreira Salles e foi montada por Bia e Pedro Correa do Lago. As fotos são originalíssimas, guardando nitidez absoluta. Entre os autores, os nomes de Comte de Clarac, Hércules Florence, Marc Ferrez, Albert Dietze, Georges Leuzinger, Augusto Riedel, Albert Frisch, Carlos Hoenen e Joaquim Pacheco. Todos compondo um primeiro time digno de todo o respeito artístico e profissional.


Floresta virgem


O Império brasileiro existiu durante os anos de 1822 e 1889. Fotógrafos franceses e brasileiros, como ocorreu em outras partes do mundo, revelaram pela primeira vez ao povo francês toda a sua arte, a partir dos trabalhos do pioneiro Florence, em Campinas, em 1833. Desenhos, estampas e fotografias mostram uma excepcional vista da floresta virgem em torno do Rio de Janeiro, na lindíssima cor sépia. Quanta saudade da natureza preservada, a baía de Guanabara, os índios, cidades em pleno crescimento (não apenas o Rio, mas também Salvador e localidades de Minas Gerais).


Para o Brasil, no século 19, a França era considerada um modelo de civilização e vários artistas, pintores, fotógrafos e arquitetos visitaram o País, deixando marcas poderosas do seu talento. Foi o caso da Missão Artística Francesa, à qual devemos nossos primeiros contatos com o neo-classicismo. O exemplo pode ser dado com a Casa França-Brasil, no centro da cidade, pertencente à Secretaria de Estado de Cultura, hoje inteiramente restaurada e até com o reforço de uma nova iluminação cênica, ali instalada pelo Governo. É uma presença de grande relevo.


Para sobreviver, os fotógrafos da época imperial viviam perto do centro da cidade. Os seus clientes, como retratistas que também eram, cingiam-se aos estrangeiros que nos visitavam. As paisagens utilizadas tanto poderiam ser as urbanas, como o que se chamava de "paisagem pura", valorizando as metas do entorno das grandes cidades. Há um apanhado bastante rico das variedades de escravos, sobretudo nas capitais litorâneas, permitindo uma visão antropológica de primeira ordem. O mesmo pode ser referido pelas várias igrejas retratadas, como a do Carmo, na antiga rua Direita do Rio, hoje Primeiro de Março (de papel albuminado a partir de um negativo de vidro). O que seria da memória nacional sem esses preciosos registros?


Rememorar toda essa verdadeira coleção de arte, de conteúdo real, foi uma feliz iniciativa, a que correspondeu com o seu grande comparecimento o povo francês.




Jornal do Commercio (Rio de Janeiro) 25/07/2005

Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), 25/07/2005