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O guerreiro da luz

 

O escritor Paulo Coelho tornou-se um dos fenômenos mais extraordinários da literatura brasileira de todos os tempos. Seus pais, Lígia (já falecida) e o engenheiro Pedro Queima Coelho de Souza, felizmente entre nós, estimavam para o filho uma profissão convencional, na área do Direito. Mas o destino lhe reservava o caminho por ele sonhado - ser escritor.


Carioca de Botafogo, 55 anos, adolescência conturbada, um passado às vezes trágico, autor, no começo da carreira, de belíssimas letras musicadas pelo parceiro Raul Seixas, sonhando com uma utópica sociedade alternativa, bem casado desde 1979 com a inspirada artista plástica Christina Oiticica, alcançou a glória acadêmica com indiscutíveis méritos literários.


Gostando ou não dos livros, a verdade é que além de compreendidos e amados no mundo inteiro eles suscitam uma atração popular jamais vista. É o guerreiro da luz, o grande embaixador da cultura brasileira. Fazendo lá fora o que o nosso Itamaraty, com bastante timidez e quase nenhum recurso, desistiu de tentar. Sua chegada, no Aeroporto de Teerã, foi uma festa indescritível. O mesmo ocorreu em outras capitais mundiais.


A aceitação em outros países é a melhor prova da consagração alcançada por esse autor que, ao lado de John Grisham, são os dois mais velhos neste planeta sedento de cultura.


A obra de Paulo Coelho dá forte ênfase à espiritualidade, rejeitando gurus, mestres e o fundamentalismo, buscando exatamente resposta para a angústia universal. Talvez aí resida o segredo do êxito planetário desse homem, que recusa a expressão de literatura mercadológica. É a voz e o anseio de multidões à procura de uma perspectiva mais favorável, que se pode encontrar na leitura, valorizada pela certeza de que o livro jamais será superado pelo computador.


É um aficionado do mar, insondável em sua plenitude, de onde provém boa parte dos misteriosos sinais que balizam a sua vida. Caminhar descalço, na areia, é um dos seus prazeres. As contemplações são diárias, do privilegiado posto de observação do apartamento de Copacabana. A água tem forte simbologia, por ser um dos elementos básicos da vida e da criação.


A criação literária tem os seus mistérios. Aceitar as suas diversidades é um exercício democrático. O que o mundo hoje nos pede é mais compreensão e não intransigência. Assim será possível aceitar a diferença. Se o público leitor vai ao encontro de determinada forma literária, a única atitude defensável é respeitar essa preferência, exercida livremente pelos leitores de países culturalmente distintos. E qual a razão do sucesso? Exatamente o fato de a obra do acadêmico Paulo Coelho tocar em alguns dos nossos inquietos demônios.




Jornal do Commercio (Rio de Janeiro - RJ) em 29/12/2002

Jornal do Commercio (Rio de Janeiro - RJ) em, 29/12/2002