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O gênio das curvas

 

                                          
“Gosto de fazer bonito!”
                                           
É uma frase recorrente sempre dita por Oscar Niemeyer, que perdemos poucos dias antes de ele completar 105 anos de idade.  Tivemos o privilégio de conhecer pessoalmente o maior arquiteto do mundo, mestre incomparável das curvas.
                                         
O último encontro foi há poucos meses.  Pedimos que ele fizesse o projeto da nova sede do CIEE/Rio.  Diante da sua dedicada esposa Vera Lúcia e do amigo de sempre José Carlos Sussekind, no escritório de Copacabana, foi incisivo:
                                        
- Faço, sim, mas você precisa aprender uma  coisa: “Bom mesmo é mulher.”
                                      
Todos riram.  Depois nos convidou para  um jantar que não pôde acontecer: “Quero que você venha comer aqui numa quinta-feira, quando costumamos receber os amigos.”
                                     
Niemeyer sempre foi extremamente afável, mesmo quando tinha brigas memoráveis com Adolpho Bloch.  Os  pretextos eram os mais variados, incluindo-se até uma discordância sobre a altura dos degraus da escadaria do prédio da rua do Russell que levava à entrada do lindíssimo Teatro Adolpho Bloch, de poltronas de veludo vermelho.  Eles acabaram se entendendo, mas era um custo.
                                   
O meu irmão Júlio, engenheiro, trabalhou com Oscar durante muitos anos.  Na década de 70, trouxe o recado: “Ele quer lhe fazer uma visita para falar de um dos seus sonhos.”  Com que prazer ele foi recebido! O motivo era simples: O Rio pede uma Faculdade de Arquitetura de primeira ordem.  “Vamos construí-la na Barra da Tijuca?” Ficamos de desenvolver o projeto.  Infelizmente, isso não aconteceu.
                                   
Depois, em janeiro de 1981, já no comando da Secretaria de Estado de Educação   e Cultura, oferecemos a Oscar a oportunidade  de projetar o que seria uma escola-modelo.  Visitamos alguns locais, na Estrada da Gávea, e ele se fixou num platô perto da Escola Americana.  Ali mesmo, de pé, encostado no carro oficial, pediu papel e caneta.  Fez o desenho do que seria o futuro Ciep.  Não conseguimos levar a ideia adiante porque o terreno não estava disponível.  O histórico original está em nosso poder.
                                 
Ao lado de Lúcio Costa, Oscar Niemeyer deu vida ao maior dos seus projetos: a nova capital brasileira, sonhada desde os tempos do Marquês de Pombal.  Quando se falava nisso, era comum o comentário:  “Quis fazer de Brasília uma cidade democrática, aberta a todos.”  A recordação é do jornalista Silvestre Gorgulho, enquanto nos mostra no planalto uma das obras-primas do grande arquiteto: a torre de TV Digital, no formato de uma grande flor do cerrado.
                               
O arquiteto carioca, como  o seu traço inconfundível, deixou obras (quase 600) também em outros países, como Israel, Espanha, Portugal e França.  Em Paris fez a sede do Partido Comunista.  Na Itália é de sua autoria a elogiada sede da Editora Mondadori e na Argélia colocou o seu gênio criativo na Universidade de Argel.  Um homem chamado de arquiteto-poeta, tornou-se imortal e hoje é pranteado por todos os brasileiros.

Jornal do Commercio (RJ), 14/12/2012