Fizeram a mesma pergunta a Severino Cavalcanti e a José Dirceu: qual é o seu futuro? Os dois foram cassados mais ou menos pelos mesmos motivos. Exerciam cargos importantes: o primeiro era presidente da Câmara dos Deputados e teria recebido R$ 7.500 para renovar o contrato da concessão dos restaurantes no Congresso.
O segundo era chefe da Casa Civil -nunca entendi direito esse cargo, mas ele existe, independentemente de minha ignorância. Foi, ou melhor, está sendo, acusado de prevaricações maiores. Tem gente morrendo para provar que foi cassado sem provas e gente morrendo provando que provas as há.
Ambos têm um passado, mais modesto para o Severino, mais substancioso para Zé Dirceu, que ameaça escrever um livro contando tudo -um direito dele. Na entrevista dada às vésperas de sua cassação, quando afirmava sua inocência e garantia que não seria punido, Severino quase teve um troço, ficou afásico, sem entender direito a pergunta.
Dirceu foi mais objetivo: disse que, além de escrever o livro sobre si mesmo, voltaria a advogar e a participar da vida política. Não faz muito tempo, quando se perguntava pelo futuro de um decaído da vida pública, a resposta era categórica. Se o cara era carioca, ele iria criar galinhas em Jacarepaguá; se era mineiro, iria criar gado em algum lugar; se paulista, plantar café. Nos três casos, um tipo de futuro tranqüilo, digno e teoricamente rendoso.
Consta que Severino, no usufruto de seu futuro, tem hoje mais poder do que tinha antes, descolando verbas para sua turma. Zé Dirceu também terá mais futuro atuando nas sombras, onde se deu melhor do que à luz da exposição diária. Nada leva a crer que se vão dedicar a tarefas agrárias ou pecuárias. Mas tudo é possível, diria Machado de Assis. Menos adivinhar o futuro que nos aguarda a todos, culpados ou inocentes.
Folha de São Paulo (São Paulo) 08/12/2005