O sonho de Tom Jobim era que o Rio se transformasse numa imensa Ipanema. Ele achava que só haveria democracia completa se houvesse hedonismo para todos. Tempos de utopia. Hoje, em tempos de distopia, é o contrário: o bairro-vitrine que ele e Vinicius fizeram o mundo admirar concentra algumas das piores mazelas da cidade: a violência, a desordem urbana, a sujeira, o desvio como norma, enfim, uma “esculhambação”, como diria o esculhambador-mor.
Um pequeno exemplo: depois de 20 anos caminhando diariamente pelo calçadão, abandonei a saudável prática depois que tropecei e por pouco não me estatelei no chão, como aconteceu com vários outros que levaram perigosas quedas causadas por pedras portuguesas fora do lugar. A vítima mais recente é uma amiga que quase quebrou o nariz ao cair num buraco do calçamento. Outra fraturou o fêmur, sem falar nos pedestres que são atropelados no seu espaço por bicicletas, skates e, agora, patinetes elétricos. São tantos os casos que já se pensa em organizar um movimento para processar a prefeitura.
E há os assaltos — pelas gangues de ciclistas, pelos pivetes que roubam celulares, pelos que invadem apartamentos (dois deles tentaram entrar no meu, dando um golpe: anunciaram que eram da Light e tinham sido chamados para atender a “uma senhora com necessidades especiais, dona Zuenir Ventura”. O porteiro, vivo, não abriu o portão. Assim, o prédio foi salvo porque os bandidos trocaram o sexo de um morador).
Quanto ao policiamento, não é difícil flagrar PMs fora da viatura batendo animados papos e nem aí para o que acontece no entorno.
Na terça-feira passada à noite, três executivos chineses foram atacados à faca na altura do Posto 9. Um foi morto, o outro ferido e o terceiro conseguiu escapar. Os roubos nesse local mais que dobraram em relação ao mesmo período do ano passado: 101 crimes contra 47. Como se fosse pouco, os vereadores criaram lei liberando a areia das praias para os cachorros. Os banhistas, e principalmente as crianças, que fiquem em casa.