Como se sabe, o Brasil vem sofrendo um processo expressivo de urbanização. Ainda somos um país de exportação de produtos agrícolas, como a soja, o café o açúcar, mas é nítida a redução da presença do campo em nossa economia, com todas as suas consequências.
A primeira e mais grave é o êxodo do interior. Há o convencimento de que se vive melhor nos grandes centros, com o ilusório atendimento social nem sempre disponível. É uma espécie de sonho que domina a massa.
O resultado disso é a redução da oferta de educação, na zona rural. A manchete da Folha de São Paulo de 3 de março de 2014 é muito clara: “País fecha 8 escolas por dia na zona rural.” Não é algo que esteja ocorrendo de súbito, mas parece de forma programada. Nos últimos dez anos, segundo o confiável Censo Escolar, 32,3 mil unidades foram desativadas no campo. É claro que os agricultores veem aí a razão do abandono das famílias do interior e o natural fenômeno da evasão escolar.
Hoje, há somente 70,8 mil escolas no campo, quando em 2003 havia 103,3 mil. Uma tragédia, para escrever o mínimo. Entre as causas dessa deserção, além da falta de bons professores, existe o fenômeno do transporte escolar, difícil dadas as enormes distâncias do nosso território. E quando tem a condução, falta a indispensável manutenção.
Prefeituras e Estados, como sempre, se queixam da falta de recursos para dar atendimento a essa clientela. O MEC promete providências, o que, aliás, promete sempre. Mas os resultados são terríveis e progressivos. Na áreas urbana, para se fazer a devida comparação, temos 119.890 escolas, de um total revelado de 190.706 escolas em todo o país.
O problema não é assim tão simples. Em muitos casos, há estabelecimentos que acoplam numa só turma todas as salas do primeiro segmento do ensino fundamental, obrigando os professores a dar cambalhotas para atender à sua diversificada clientela. Biblioteca? Nem pensar. Temos 15 milhões de alunos sem conhecer fisicamente o que é uma biblioteca, muitas vezes vivendo do uso de arremedos que são chamados de salas de leitura. Se ainda por cima estamos fechando escolas, a tendência, é claro, é piorar o quadro.
Jovens de 18 a 29 anos na zona rural estudam, em média, cerca de 8 anos. Os da área urbana, 10 anos. Por aí se tira a conclusão óbvia do prejuízo vivido por uma parcela ponderável dos nossos alunos, sem tocar na qualidade do ensino, que é outra catástrofe.
O MEC está acordado para essa série de dificuldades. As próprias autoridades governamentais revelam a fraqueza desse tipo de atendimento, buscando soluções a curto prazo. Uma delas é a prometida construção de 3 mil novas escolas, dotadas de todos os apetrechos da modernidade. Será isso feito? Ou vai morrer na imensa relação das obras do PAC que não saíram do papel?
Folha Dirigida (RJ), 13/3/2014