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O filme e Juscelino

 

Esta sendo anunciado, pelos cineastas, um filme sobre Juscelino Kubitscheck, abarcando toda a sua vida, desde o menino pobre, telegrafista em Minas Gerais, até o seu fim, punido pela revolução de 31 de março de 1964. Como o cinema brasileiro não se subordina a uma ou mais empresas, como o de Hollywood, temos de esperar para ver se Juscelino foi ou não bem historiado pelo autor do roteiro, em todas as nuances de uma vida excepcionalmente cheia como a do simpático mineiro.


Conheci Juscelino, estive com ele no Catete, na construção de Brasília, desde a sua pedra fundamental, a que compareci com o cardeal Dom Carlos Carmelo. Eu, como muitos políticos e amigos de Juscelino, inclusive acadêmicos, como Álvaro Lins e Josué Monteiro, sabiam pormenores de sua vida, mesmo porque seria difícil um homem que ocupava sua posição, a mais alta do país, não deixasse ao alcance de indiscrições sua vida particular, fora da família.


Mas, aí é que está pegando a resistência das filhas ou de uma delas, contra o filme, o qual por seu diretor quer revelar a maioria dos fatos envolvendo o grande presidente. Já vimos numerosos filmes, a maioria indiscreta. Nos Estados Unidos, presidentes houve, como Roosevelt e sua mulher, Eisenhower e Kennedy que tiveram casos, como o último em data, Bill Clinton, e nos filmes foram poupados os pulos de cerca que deram em vida, como deu, com o famoso dr. Ruy, o famoso Adhemar de Barros.


O melhor que se tem de obter dos cineastas empenhados na filmagem é deixarem passar o tempo, que tudo muda, em concepção de pessoa, e daqui alguns anos está esquecida a amante do presidente, suas filhas estarão mortas, e os espectadores da nova geração, já também com anos na vida, pouca importância darão às aventuras presidenciais. Ficarão, apenas, nas suas realizações, verdadeiramente únicas na história republicana.


 


Diário do Comércio (São Paulo) 23/11/2004

Diário do Comércio (São Paulo), 23/11/2004