Nunca eu poderia imaginar, conversando na Academia Brasileira de Letras, da qual somos membros, que meu caríssimo confrade e amigo tinha sido um contra-espião para desvendar, com sua inteligência, domínio do castelhano e profundo conhecedor dos meandros diplomáticos, era Sérgio Corrêa da Costa, descendente do poeta Raymundo Corrêa, autor de As pombas e outros sonetos . Foi uma surpresa. Li com prazer e curiosidade a reportagem de Veja com o maior interesse. Um belo furo da revista.
Ninguém no Brasil, no tempo da guerra, quando os submarinos alemães afundavam navios mercantes no Atlântico sul, poderia supor que chefes nazistas de alto coturno estavam emigrando para a Argentina.
Perón foi o responsável. O autor da derrocada de um do mais prósperos países do mundo e cenário da mais bela capital das Américas, atraia os nazistas que deixavam a Alemanha já certos de que a guerra estava perdida, mesmo antes da Operação Barba-Rossa.
Para confirmar a atração da Argentina pelos nazistas, graças a um governo traidor, como o de Perón, basta citar a prisão de vários chefes, todos acumpliciados para invadirem o sul do Brasil e implantarem a suástica do Paraná ao Rio Grande do Sul. Esse sonho, para nós pesadelo, não era uma fantasia do Fuhrer da Alemanha, mas um projeto que, evidentemente, não daria certo, pois no dia em que fosse revelado os Estados Unidos e as demais nações do continente o repeliriam.
Pois o meu amigo Sérgio Corrêa da Costa, autor de vários livros de alto valor histórico e literário, travestido de espião argentino a serviço do Reich, espalhou o seu espanhol por toda a Argentina, fichou os chefes nazistas, informou os americanos dos planos e provavelmente de tudo o que pretendiam fazer abaixo do Equador. Bravo a Sérgio Corrêa da Costa, grande diplomata, ilustre intelectual, notável escritor, hoje residindo em Copacabana.
Diário do Comércio (São Paulo) 18/10/2004