Uma tempestade perfeita parece estar se formando sobre o Palácio do Planalto, com a perda de força política do governo em relação ao Congresso, e com a queda de popularidade do próprio presidente Lula diante da opinião pública, revelada por diversas pesquisas recentes. O mais estranho é que os resultados econômicos estão vindo, com crescimento do PIB, aumento no rendimento médio dos trabalhadores e melhoria do PIB per capita, o que não acontecia há muito tempo.
É provável que os resultados econômicos resultem na reversão, ou pelo menos na neutralização, desse quadro negativo, mas é preciso que o governo Lula atue em outros campos, pois tudo indica que hoje já não basta a situação econômica estar equilibrada para preencher as aspirações de uma ampla massa de eleitores, que já atinge até mesmo os moradores do nordeste, que continua sendo uma barreira inexpugnável ao pessimismo em relação ao governo petista.
Mas já foi melhor para Lula a situação. Muito porque os avanços dos programas sociais já se desligaram do petismo, pois todos os governos mantiveram a sistemática, o que incorporou na realidade desse público o automatismo desses benefícios, seja qual for a tendência do governo.
A relação do governo com o Congresso, por sua vez, depende muito da sua força popular, o que não está se refletindo no momento a seu favor. O PL tem o controle do Congresso, é o maior partido, e o PT, um dos menores. Os dois atuam atualmente em disputa direta, o partido de Bolsonaro avançando para controlar as principais comissões da Câmara, como a de Constituição e Justiça e a de Educação, enquanto o PT tenta defender algumas de suas fronteiras, para impedir que o bolsonarismo consiga deter avanços econômicos.
Os petistas conseguiram proteger algumas comissões que afetam a economia, para tentar controlar o avanço da oposição. Mas as mais importantes – Constituição e Justiça e Educação estão com Bolsonaro e com o PL, com seus representantes mais aguerridos e radicais. Esta divisão reflete a força do PL e a fraqueza do PT. Esta é a realidade do país. O Congresso predomina diante do Executivo, e quem predomina no Congresso é o PL, com o Centrão, que não é tão radical à direita como o PL, mas é um grupo de centro direita que tende para o bolsonarismo na disputa política.
O governo está sem saída, não tem maioria no Congresso e está perdendo também nas pesquisas de opinião. A situação não está nada boa para o PT. A questão é que a esquerda brasileira é muito atrasada, ainda está no século passado nas relações de trabalho e nas relações humanas. Lula perde tempo com Maduro e Venezuela, uma vergonha.
Enquanto não se atualizarem, não entenderem que o mundo mudou e que não é assim que a “banda toca”, vão ficar em minoria. Não estão entendendo o que está acontecendo com a sociedade; não estão compreendendo que a maneira como faziam política há 20 anos não funciona mais. Teriam que mudar a cabeça para tentar enfrentar essa disputa muito dura com esta direita que saiu do armário em 2018 e continua muito mais ativa.
Esse aggiornamento da esquerda brasileira dependerá muito da atuação pessoal do próprio presidente Lula, que continua sendo o grande líder popular do país. Assim como Bolsonaro, apesar de toda sua radicalização política, ainda consegue juntar liberais de diversos teores em seu entorno, também Lula precisa manter um centro político em sua volta, para que o espírito de um governo de união nacional permita ampliar seu apoio para fora da esquerda.
Mas Lula parece mais empenhado no momento em falar para os seus, especialmente quando escolhe Maduro para seu protegido e Israel para seu inimigo preferencial, sem tomar cuidado com as consequências. As pesquisas começam a mostrar que Lula perde apoio entre não petistas que votaram nele contra Bolsonaro, e mesmo no nordeste o apoio vem enfraquecendo, embora lentamente.