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O do português ruim

 

O governo Bolsonaro tem o que comemorar: o ministro da Educação, Abraham Weintraub, não atropelou a gramática sequer uma vez nos últimos dias. Ao prometer “tirar o Brasil do fundo do poço no Pisa”, ele escreveu “poço” corretamente, não “pôsso”.

Afinal, entre os embates que o ministro vem sustentando com estudantes, professores e outros adversários, os mais frequentes têm sido com a língua portuguesa. Já fazem parte de sua antologia de erros “paralização”, “antessessores”, “kafta”, “suspenção”.

O mais conhecido e engraçado apareceu no Twitter, onde ele escreveu “imprecionante”, e o mais grave foi o anúncio nessa mesma mensagem de que estava inaugurando a área de pesquisa em Segurança Pública, quando é sabido que a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) já tinha financiado só nos últimos dois anos 246 trabalhos de mestrado e doutorado na área.

Outro episódio sem nenhuma graça foi a notificação que o ministro recebeu do STF para explicar as ofensas cometidas contra a União Nacional dos Estudantes, chamando-a de “máfia”: “a gente vai tirar R$ 500 milhões das mãos da tigrada da UNE”, ele afirmou.

O que o presidente Bolsonaro acha das demonstrações de ignorância de seu subordinado, já que acusou os estudantes brasileiros de não saberem qual é a fórmula da água e nem quanto é 7 x 8? O que ele acha de um ministro da Educação que convive tão mal com o português a ponto de confundir “c”, “s” e “ç’? O seu silêncio sugere que ele deve considerar normal a confusão.

Anormal para ele é Paulo Freire, reconhecido mundialmente como mestre da pedagogia e a quem o presidente chamou de energúmeno, sem saber que pelo menos um dos significados do termo (“fanático, “possesso”) se aplica mais a ele, Bolsonaro, que atribui a Freire a responsabilidade pelo baixo resultado do país no Pisa, desconhecendo que o famoso método é de alfabetização de adultos.

Que, aliás, não perdeu o prazo de validade. Ainda serve para alfabetizar adultos — inclusive ministros.

O Globo, 14/01/2020