Na política, como nas fábricas de produtos populares, e até mesmo na difusão dos filmes de Hollywood, é preciso, de tempos em tempos, inventar alguma patranha, a fim de revitalizar o próprio partido e enfraquecer ou tentar fazê-lo os demais, que ocupam a cena partidária. É típico da partidocracia, como esta de pechisbeque em que nos encontramos, que se invente uma inverdade, leve a mídia, atacada mesmo, a repetí-la, que, em pouco, será verdade.
É o caso do denuncismo, esse horrível neologismo criado por quem não conhece a língua que fala, para atacar perante a opinião pública os partidos adversários, que não querem ser atraídos para o aprisco do PT, e fortalecer Lula e seus comparsas. Isto, simplesmente, por não haver denuncismo, pois, ao que me conste, os repórteres não são de tal maneira imaginosos, que vão inventar todos os dias mentiras sob a forma de denúncias, como o genérico do presidente Lula da Silva.
A imprensa ou a mídia, em geral, mas de preferência a imprensa, com os comentários dos editoriais, as reportagens e os artigos assinados, tem, apenas, trasladado para as páginas dos jornais os erros, as idéias despropositadas, o mau desempenho dos petistas, o burocratismo desesperado que está assolando o país mais do que uma praga de gafanhotos, a imprensa cumpriu seu dever. Pode errar, concordamos, mas está sujeita ao dever de retificação e ao direito de resposta.
O presidente tem imaginação fértil. Se tivesse algumas tinturas culturais, eu o aconselharia a escrever romances, que sua imaginação tem fulgores que os autores de romances expelem durante a vida literária e os críticos comentam o que fazem, bem ou mal, não importa. O presidente tem muito o que fazer, embora consuma tempo precioso viajando para nada ou, como dizia Mário de Andrade, para a sua semostração. Enfim, o que digo e repito, não há denuncismo, salvo o de Lula, que denuncia o denuncismo inexistente.
Diário do Comércio (São Paulo - SP) 09/09/2004