"Eu vou matar Moniz Vianna!", gritou Glauber Rocha ao ler mais um artigo arrasador do crítico do Correio da Manhã contra um filme do Cinema Novo. Moniz era o principal crítico de cinema do Brasil, e Glauber, o grande cineasta, alma do Cinema Novo. Mas que matar, que nada. Os dois eram baianos e se entendiam. Logo fizeram as pazes e, mais uma vez, para sempre —até a briga seguinte. O verdadeiro Antônio das Mortes, armado de uma Royal em vez de carabina, era Antonio Moniz Vianna.
Moniz (1924-2009) faria 100 anos neste sábado (11). Em três décadas de crítica desde 1946, e sempre no Correio da Manhã, do Rio, falou de mais filmes do que todos os colegas americanos e franceses multiplicados uns pelos outros, e com mais propriedade. De Lumière a Woody Allen, sua cultura de cinema era total. Seus artigos às vezes ocupavam duas colunas de alto abaixo do jornal —um filme por dia, todos os dias!—, com opiniões que lhe valeram tanto brigas quanto admirações.
Moniz era nacional. Nos anos 50, Glauber o lia na Bahia; Mauricio Gomes Leite, em Belo Horizonte; Rubem Biafora, em São Paulo; Linduarte Noronha, em João Pessoa; Walter Lima Jr., em Niterói; Cacá Diegues, Julio Bressane, Sergio Augusto, Paulo Perdigão e José Lino Grünewald, no Rio; Geraldo Mayrink, em Juiz de Fora; Valerio Andrade, em Natal. Por sua causa, todos se tornaram críticos; os sete primeiros, cineastas.
O homem que fez a cabeça de tanta gente, e tinha em casa 5.000 filmes em VHS e montanhas de fotos, cartazes e trilhas sonoras, não conseguiu com que seus filhos fossem cinéfilos. Mas, então, Moniz ganhou um neto. Depois de apresentá-lo a desenhos de Walt Disney, westerns e musicais a que ele não deu muita bola, Moniz passou-lhe determinado filme. Foi o que bastou para o garoto se apaixonar pelo cinema, em dimensões iguais à do avô.
Eduardo tinha quatro anos. O filme era "Psicose".