Pelo menos uma coisa no Brasil está passando por um upgrade: o crime. Seu território já não se limita às bocas de fumo, mas compreende agora empresas com razão social, CNPJ, inscrição estadual, plano de promoção de funcionários, contabilidade digital e assistência jurídica. E, da mesma forma que as empresas legais, rendem bilhões e só declaram o mínimo que lhes permita passar pela malha da Receita. Aliás, são empresas legais. Só que voltadas para o crime —muito bem organizado.
Quem viu "O Poderoso Chefão" se lembra. Robert Duvall interpreta Tom Hagen, agregado dos Corleone, que se forma em direito para cuidar da transição da família, dos negócios grosseiros como venda de bebidas e de proteção, para os legais, como a exploração de cassinos e hotéis. Este é o objetivo de toda organização fora da lei —legalizar-se.
Nossos criminosos organizados também já estão operando dessa forma. Deixaram para os milicianos as frentes pé-de-chinelo, como exploração de vans, venda de botijões e eliminação de inimigos, para se concentrar no que realmente interessa: a lavagem do dinheiro auferido com a droga, o jogo e o contrabando de armas. Para isso, estão se cercando de círculos de proteção, infiltrando-se no mundo institucional.
O crime já está, entre outros, no mercado financeiro, nas concessões de linhas de ônibus, na construção imobiliária, no financiamento de campanhas eleitorais, na compra e venda de jogadores e no súbito e monumental negócio das apostas —o qual ainda pode decuplicar se trouxerem de volta os cassinos. Todas essas atividades são praticadas sob fachadas legais. Ao eleger esse ou aquele político, por exemplo, você pode estar sendo, sem saber, alegre cúmplice de uma megaoperação.
E onde ficam os cérebros de tudo isso? Mais perto do que você imagina —na Faria Lima, no Itaim, na Barra da Tijuca. O crime agora mora ao lado.