O evento de mobilização que a Escola Superior de Desenho Industrial (Esdi) promove amanhã contra a crise na Uerj e, em consequência, sua própria crise, é um admirável esforço de resistência cívica de alunos e professores, mas, ao mesmo tempo um triste capítulo de uma gloriosa história. É que a Esdi, fundada há 55 anos como a primeira da América Latina e cuja excelência didática já a situou entre as 40 melhores do mundo, está à míngua: salários atrasados, reduzidas verbas de custeio, instalações caindo aos pedaços, laboratórios e oficinas sucateados e sem poder utilizar o estacionamento (agora proibido) para ajudar na sua manutenção. Estudantes estão precisando se cotizar para pagar aos servidores.
Por ocasião de seus 40 anos, escrevi que ela foi para o design o que a bossa nova foi para a música, o Arena para o teatro, o Cinema Novo para o cinema, Brasília para a arquitetura. Foi matriz — serviu de regra e compasso, fez cabeças, frutificou como resultado bem-sucedido de um cruzamento da Bauhaus e de Ulm com o jeitinho carioca. Mas enfrentou muitas reações. “Para que estudar desenho industrial?”, perguntava-se, “se nem indústria temos?”. Naqueles tempos de utopia, impregnados pelo espírito visionário de JK, nada tinha mesmo lógica. Brasília não iria ficar pronta por falta de tempo, havia quem apostasse. Garrincha tinha perna torta. Pelé foi lançado na seleção prematuramente. O cinema, além de ideias na cabeça, só tinha câmeras vagabundas. E o forte da música era a voz fraca de João Gilberto. A Esdi, gestada nesse clima, era uma improbabilidade a mais. Devia ser incluída na lista das ideias surgidas antes do tempo, e das coisas que não poderiam ter sido e que foram.
Não consigo disfarçar o orgulho de dizer que participei da fundação da Esdi e nela lecionei Comunicação Verbal, ao lado de Karl Heinz Bergmiller, Alexandre Wolnner, Aloísio Magalhães, Décio Pignatari, Goebel Weyne, tendo como diretores Mauricio Roberto, Flávio de Aquino e Carmen Portinho. Lembrando a bela trajetória de um generoso projeto e vendo a situação de agora, resolvo plagiar Nelson Motta, um dos mais brilhantes ex-alunos, que, ao saber da ameaça de fechamento de sua “escola dos sonhos”, desabafou: “Tenho vontade de chorar, tenho que fazer alguma coisa, nem que seja uma crônica no jornal”.
Os dirigentes escolhem seu destino. O então governador Carlos Lacerda e seu secretário de Educação, Flexa Ribeiro, vão ficar na história cultural do estado pela criação da Escola Superior de Desenho Industrial. Os atuais governantes optaram, ao contrário, pelo caminho que leva à falência.