Não há forra para o nosso desfecho na Copa. Começamos a nos dar conta do avanço de uma consciência brasileira escapada, de vez, dos tropeços ou fracassos do jogo máximo. Dissociamo-nos do futebol, agora, nas nossas apostas de futuro e já nos guarnecemos, de saída, pela didática da presidente, nos prevenindo para o 3x0 em nosso segundo fracasso, contra a Holanda. Mas o que se entenderá, de fato, pela radicalidade do recomeço da tarefa, inquietantemente assimilado pelo ministro dos esportes, Aldo Rebelo, a uma possível estatização do futebol? E o que será, em toda a sua amplitude, a reorganização prometida?
Perguntaríamos se existe, realmente, uma equipe brasileira, diante da diáspora dos nossos jogadores, hoje, perfeitos poliglotas nos melhores clubes do mundo, ao contrário, por exemplo, dos russos, que em sua totalidade jogam no país, ou do conjunto alemão, mantido em treino permanente e centralizado entre as Copas. Não será o resgate apressado dos minicampeonatos, de imediato, à nossa frente, que consolará o país.
Avultou, por outro lado, o contraste da nossa reação com o inconformismo argentino, nas depredações de Buenos Aires e na violência das manchetes da capital. Na passagem do jogo ao impacto coletivo, deparamos o inédito do congraçar alemão, desde a concentração na Bahia, e os festejos com os pataxós, até os agradecimentos efusivos aos brasileiros e o alastrar-se pela madrugada das comemorações da vitória. E, significativamente, quando o clube prolonga o reconhecimento em campo, multiplicaram-se as camisas do Flamengo nas ruas, timbradas pelo rubro-negro do uniforme alemão.
No que os prélios invadiram o político, foi significativamente menor a vaia a Dilma no Maracanã que em São Paulo, suplantada pelos aplausos aos times vencedores. De toda forma, parece ganha a dissociação entre as agruras da derrota e a responsabilidade da Presidência, transferível à campanha eleitoral. E, de logo, viram o despropósito dessa exploração os candidatos oposicionistas.
Se fossemos cobrar ao futebol os riscos de uma catástrofe cívica, pelo seu entranhamento na cultura brasileira, acode-nos a nossa clássica desmemória coletiva: o país prospectivo vai, já, leve, sem reminiscências, à campanha eleitoral.