Concordo com o cronista Antonio Prata quando disse, em coluna nesta Folha, que precisamos admitir uma verdade: ninguém está entendendo nada. Exemplo: muita gente, sobretudo no governo, acreditou que os protestos nas ruas de todo o Brasil foram motivados pelo aumento de 20 centavos nos transportes públicos.
Por causa disso, manifestantes em Brasília depredam o Itamaraty, no Rio atacam a prefeitura, em Ribeirão Preto um rapaz é morto, ônibus e carros são incendiados em várias cidades.
Eisenstein, em seu "Encouraçado Potemkin", fez a revolução russa começar no cais de Odessa, com o corpo de um marinheiro assassinado "por causa de uma sopa". Para início de história, não estava errado. A Revolução Francesa não começou com Maria Antonieta mandando o povo comer bolos.
Antes da tomada da Bastilha, data oficial do movimento, já tinha havido a convocação dos Estados Gerais (nobreza, clero e povo) e os enciclopedistas, tudo estava pronto para um Robespierre inaugurar o terror com a tecnologia da época fornecida pelo dr. Guillotin.
Espero que esteja exagerando, mas essas coisas costumam acontecer. Principalmente quando não há uma liderança visível, uma causa específica para provocar um tumulto.
O normal seria que, de um lado, houvesse um grupo responsável pelos protestos e, de outro lado, um grupo para negociar ou abrir um caminho para a normalização da vida pública.
Seria o caso de a presidente Dilma não apenas lamentar a indignação popular, mas fazer por onde. Na semana passada, o senador Cristovam Buarque acentuou a falta de uma liderança na crise que atravessamos. Sem ironia, disse que só há um nome forte no atual panorama nacional: é de um cidadão suíço, Joseph Blatter, presidente da Fifa.
Folha de S. Paulo (RJ), 23/6/2013