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O arco e a flecha

 

Do distante CPOR (Centro de Preparação de Oficiais da Reserva) que frequentei, guardei apenas uma definição de guerra: é o conflito violento de duas vontades.

Perguntaram a um especialista como seria o próximo conflito mundial e ele respondeu: "a arco e flecha".

Mês passado, no aeroporto de Viena, precisei tirar os sapatos para provar que não tinha nem arco nem flecha escondidos. E confiscaram uma tesourinha de unha que levava na bagagem de mão.

Stefan Zweig se revoltava contra a exigência dos passaportes; ele usava um cartão amarelo dado por uma instituição internacional. Daí que nunca deixou de ser um pacifista radical e chegou a ser criticado por isso, mas não renunciou ao ideal de uma humanidade sem fronteiras e sem guerras.

O 11 de Setembro iniciou, de fato, um tipo de guerra que é o conflito de duas vontades antagônicas, duas visões de mundo que se chocam, uma não entendendo a outra. Não é uma medição de forças. A frota de porta-aviões da Marinha dos EUA pode destruir um continente inteiro em poucos minutos.

O poderio militar, econômico e tecnológico dos EUA levou dez anos para destruir um sujeito magro, que morava em cavernas e andava com um bastão como um pastor de ovelhas inexistentes. O terrorismo é antigo no mundo.

Lembro que uma vez, no metrô da Picadilly Circus (Londres), havia um cartaz com a foto de Menachem Begin, então procurado internacionalmente como responsável pelo atentado ao hotel King David, em Jerusalém, em que morreram diversos oficiais ingleses. Begin chegou a ganhar o Nobel da Paz, em 1978.

Os dois conceitos de mundo e de vida, mesmo para concepções religiosas monoteístas (cristãos, judeus e muçulmanos), esgotados os recursos da economia e da tecnologia, terminarão apelando para o arco e a flecha.

Folha de São Paulo, 13/9/2011