RIO DE JANEIRO - Com o advento da internet, ele pensou que ficaria livre de uma das coisas que mais o chateavam: a leitura dos jornais. Por motivos profissionais, era obrigado a ler diariamente pelo menos quatro deles, além de revistas semanais e mensais. Estava cheio.
No início, tudo foi maravilha. Abria o computador e acessava o que mais lhe interessava naquele dia e naquela circunstância. Aos poucos, antes de acessar o que lhe interessava, era acessado por um número cada vez maior de mensagens, na sua maioria de estranhos ou de firmas e instituições que comunicavam um universo de informações que nada tinham a ver com ele.
Em certa época, ficou preso num cubículo e tinha por única distração o exemplar de um jornal ali deixado por inquilino anterior. Leu tudo, desde a previsão do tempo para aquele dia do passado, a votação de um projeto na Câmara sobre o salário das merendeiras escolares do Piauí, até a cotação do algodão tipo B293 na Bolsa de Melbourne.
Jurou ódio aos jornais, mas precisava deles. Exultou quando soube que a internet era maior e melhor do que qualquer coisa impressa em papel. Quando criança, gostava dos jornais porque, depois que o pai os lia, ele juntava os exemplares e uma vez por semana os vendia no açougue do Seu Couto. Ganhava um tostão por quilo, preço de um picolé na sorveteria Pingüim, a mais sortida de Vila Isabel. A Saúde Pública proibiu que a carne fosse embrulhada em jornais -ele perdeu a sua primeira fonte de renda.
Foi em frente. Hoje, quando abre o computador, recebe informações mais fartas e variadas, não apenas do algodão em Melbourne mas das homenagens que um vereador de Nilópolis fez por merecer de seus pares por motivo do nascimento de sua primeira neta.
Folha de S. Paulo (SP) 21/12/2008