Sem pressa e sem pausa, como aconselhava o poeta Goethe, o presidente Luís Inácio Lula da Silva foi muito aplaudido, na leitura do discurso com que saudou a assinatura dos quatro documentos fundamentais da implantação do Acordo Ortográfico de Unificação da Língua Portuguesa. Vencendo barreiras internas e externas, inclusive de intelectuais portugueses que acusaram a decisão governamental de facilitar o emprego de “bizarrices”, Lula marcou para o próximo ano o início do emprego das alterações (menos de 1% do nosso Vocabulário Ortográfico), com os livros didáticos ficando para 2.010 e o restante, ou seja, a totalidade dos que empregam a língua de Machado de Assis, para o ano de 2.012.
Por sugestão do Acadêmico Cícero Sandroni, o ato ocorreu no Salão Nobre da Academia Brasileira de Letras, que na data celebrava o centenário de morte do seu patrono e primeiro presidente. Lula mostrou respeito à ABL: “Testemunho a sua importância como instituição que reconhece e consagra o talento literário e artístico brasileiro. Todos os seus feitos concretos a tornam um organismo único em nossa vida cultural.”
Na seqüência da cerimônia, que contou com a presença de diversas autoridades, como o governador Sérgio Cabral e os ministros Fernando Haddad e Juca Ferreira, o presidente da República elogiou o significado estratégico do Acordo Ortográfico, com o imprescindível resgate dos nossos laços substantivos com a África, “em particular a África de língua portuguesa.”
Para o presidente, é o reencontro do Brasil consigo mesmo, consideradas algumas das suas raízes mais profundas. Lembrou que, nos seus mandatos, realizou 21 visitas a países da África, “engajando o nosso país em parcerias com as mais diversas nações africanas, em especial as de língua portuguesa. São acordos de cooperação cultural, científica e educacional com os países da Comunidade dos Povos de Língua Portuguesa, prevendo a circulação de obras literárias e de obras artísticas em geral, o que será grandemente facilitado pela implementação do Acordo Ortográfico (com o pormenor de que ele não se refere à pronúncia, que seguirá os padrões culturais dos povos respectivos).
Como educador, fiquei particularmente feliz com a promessa de incrementar a ação de professores brasileiros em cada um dos países irmãos. A padronização da língua escrita será um formidável instrumento de intercâmbio, como, por exemplo, a edição de material didático compartilhado. No caso da Matemática, para citar disciplina essencial, superado o obstáculo da grafia, o conteúdo poderá ser apreendido com a mesma metodologia que aplicamos em nossas escolas. Ou a geometria euclideana terá diferenças entre uma e outra regiões?
Foi ainda muito oportuna uma outra lembrança do presidente Lula, quando se referiu aos quase 8 milhões de lusófonos radicados fora dos nossos países, dispersos pelo mundo. “Estou certo de que eles também desejam assegurar aos seus filhos o domínio do português falado e escrito.”
Jornal do Commercio (RJ) 24/10/2008