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As novas trincheiras do terrorismo

 

No quadro de surpresas deste ano, Bashar al-Assad reforça-se como presidente da Síria, no superpragmatismo internacional, para vencer o novo risco do enraizamento do terrorismo no Oriente Médio.

O inesperado destes dias é a certeza do perigo crescente da Al-Qaeda na sua organização no Oriente Médio, após a dramática sinalização do 11 de setembro e de uma década de protesto e alerta nos lances dos homens-bomba.

Ayman al-Zawahiri, sucessor de Osama bin Laden, tem determinação de fortalecer a rejeição ao Ocidente, na radicalidade de um confronto e do implante do movimento em áreas críticas como o Iraque e a própria Síria.

Movimentos quase autônomos e solidificados como o da frente Al-Nusra e o do Estado islâmico do Iraque e do Levante veem em Assad a principal barreira ao intento de crescer a Al-Qaeda como uma enraizada federalização do terrorismo.

O impasse crítico da área contrasta com a viabilidade de uma aculturação islâmica com o Ocidente, como hoje evidencia o Sudeste Asiático. Países comunistas como Mianmar ou Laos abandonam o radicalismo socialista, especialmente pela imposição das novas leis de mercado, aguçadas pelas correntes do turismo internacional.

Mas é no âmago do processo cultural que essa área supera os alinhamentos drásticos, indutores da "guerra de religiões". O exemplo criador e prospectivo é o da Malásia, a intentar, agora, a superação da identidade islâmica como constitutiva de seu povo.

No seu texto inicial, a Constituição de Kuala Lumpur só reconhece como islâmico o cidadão do país, no exemplo extremo dos reducionismos identitários.

E é contra essa prospectiva que se constituiu o chamado "Movimento da Moderação", que tem como princípio a exclusão de toda radicalidade ou extremismo no comportamento político do país.

A imposição do freio a todo excesso na ação política abre caminho para uma crescente coexistência na diferença e no multiculturalismo no país, onde só a metade é malaia, 25% são chineses e 15% hindus.

Já saindo do Sudeste Asiático, o alcance da nova política chega ao Cazaquistão, no seio do continente. Não se compromete mais, apenas, com um vago pluralismo das diferenças, mas acolhe um expresso multiculturalismo, a reforçar e garantir a capacitação política de todas as minorias étnicas.

De toda forma, o marco crítico dos nossos dias é de uma exasperação do confronto entre a rejeição social do outro e a convivência coletiva, que marca a tradição histórica da democracia. O possível Estado de Direito que o século asiático venha a garantir não é mais o do governo pelas maiorias dos votos, mas o do reconhecimento das etnias e diferenças, no confronto último com o terrorismo contemporâneo.

Folha de S. Paulo, 18/4/2014