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Novas janelas que se abrem para a língua

 

Em um momento que muitos de nós estamos em home office (ou fazendo teletrabalho ou trabalho à distância), pedindo tudo por delivery (ou entrega a/em domicílio), assistindo a lives (transmissões ao vivo), consumindo músicas, filmes e livros por streaming (acesso a conteúdo pelas plataformas digitais), outras vezes recebendo fake news (notícias falsas), em meio ao lockdown (bloqueio total) de algumas cidades, vale a pena falarmos novamente sobre os estrangeirismos, isto é, palavra ou expressão recebida de outra língua.

O repúdio à adoção de estrangeirismos tem-se dado em todos os tempos e tem experimentado os tipos de reação — favorável ou desfavorável — a que hoje assistimos: nihil novum sub sole, nada há de novo sob o sol.

A questão do estrangeirismo, longe de testemunhar fraqueza ou subserviência de quem recebe o empréstimo, reflete o contato cultural e comercial entre os povos, com suas naturais consequências de influxos e interpenetrações. 

Tratar o problema do estrangeirismo numa língua como um sinal de decadência cultural ou de perda de noção de identidade nacional é colocá-lo em ótica errada ou, pelo menos, sujeita a graves críticas e profundos prejuízos de natureza científica. 

É fato que há termos e expressões inglesas que circulam nos meios de comunicação motivados exclusivamente pelo esnobismo e, muitas vezes, pela propaganda enganosa, que não acrescentam nada à riqueza do idioma e à propriedade das ideias, mas tão somente fazem crescer a convicção errônea de que tudo o que vem de fora é bom, confiável e digno de imitação.

Ainda que muitas dessas formas apareçam documentadas em outras línguas, fazendo parte da imensa legião lexical de palavras sem fronteiras, isso não justifica a crítica velada ou explícita àqueles que, dentro de seu campo de atividade, clamam contra o abuso, ou fragilidade e dócil aceitação.

O linguista francês Michel Brèal, em seu Ensaio de Semântica, de 1897, p.290-291, comenta com propriedade o problema dos estrangeirismos:

“Para encontrar a exata e verdadeira medida, cabe recordar que a linguagem é uma obra de colaboração, na qual o ouvinte e o que fala trabalham mutuamente. A palavra estrangeira, que estará bem empregada se me dirijo a um especialista, parecerá, entretanto, afetada ou causará dificuldade de entendimento, se tenho diante de mim um público não iniciado nesse assunto(...) Não há, pois, resposta ou solução uniforme para esta questão de palavras estrangeiras”.

Portal da ABL, 21/05/2020