Portuguese English French German Italian Russian Spanish
Início > Artigos > A nova face externa do Brasil

A nova face externa do Brasil

 

A última reunião da Aliança das Civilizações, em Istambul, deu-nos o horizonte da nova aceleração da história acarretada pelo governo Obama. A volta dos Estados Unidos à sua matriz democrática quebrou de vez as visões de uma globalização hegemônica. E a abordagem, pelo Presidente, das relações internacionais dos Estados Unidos mostra a quão fundo vai esse novo pluralismo do "vis-à-vis" concreto com as regiões e conflitos de nosso tempo. Obana convenceu o mundo do seu propósito de escutar e, ao mesmo tempo, dar o primeiro passo no desarme da "civilização do medo", armada pelo seu antecessor na Casa Branca.


Não estamos mais também no universo de centros e periferias, mas de muitas vozes, inclusive rompendo as expectativas de blocos, assentados nas velhas unidades geopolíticas. A Conferência de Istambul mostrou, por exemplo, o quanto a idéia de um protagonismo mediterrâneo se descola de uma velha visão européia, nesta presença crescente da Turquia, livre de denominadores rígidos com que o mundo do após o 11 de setembro via contraponto do Ocidente com o Islão.


Neste eixo, pela primeira vez, acolhe-se uma Líbia que sai do seu radicalismo estério, e permite uma outra visão do mundo mangrebino, em que a cultura islâmica vai as novas concentrações políticas, em busca da globalização equilibrada a que concita Barack Obama. Nem há outra razão pela qual a "velha Europa" se encrespa, diante desta nova perpectiva e, Sarzoky e Merckel à frente, não só se opõe à entrada do governo de Ancara na União Européia, como exacerba a legislação anti-imigratória islâmica no continente.


A presença organizada do mundo islâmico na era global pós-Obama é quase um imperativo de sua sobrevivênvia na nova iniciativa política de nosso tempo que contrapõe ao mundo superado pelo 11 de setembro, a emergência crescente dos BRICS. Ou seja, dos países territoriais gigantes, em população e território, fora dos antigos eixos de poder em que o Brasil se soma à China, Índia, Rússia e África do Sul. A última reunião do G-20, a que sucedeu a conferência de Istambul, mostrou o avanço desse pluralismo, inclusive com o destaque da presença brasileira fora das dimensões exautas da América Latina. E a interlocução de Lula com Obama já é de um mediador com as demais nações do continente, a que não se esquiva, inclusive, o pedido expresso de Hugo Chávez. No remate dessa aceleração internacional do último mês, a conferência de Trindad e Tobago tornou de vez obsoleto o jogo das polaridades carcomidas pelo advento do novo Presidente. As desinterdições cubanas corrigem o super atraso histórico, tal como a proposta de diálogo de Obama com os três governos bolivianos mostram a obsolescência do antiamericanismo, suscitado pelo Oval de Bush.


Exaure-se de vez, também, a velha visão de uma América Latina posta toda no curral de uma mesma política de dominações e benign neglects, de parte do vizinho descomunal. O México será tratado de maneira isolada, com "czares" para resolver as tensões de fronteira. Os bolivianos se distinguem, na visão de Obama, dos outros andinos, como o Peru e a Colômbia, e o Brasil se desencapsula de vez de seus colegas continentais.


Lula não se sentou, por acaso, à direita da Rainha, na foto de família do G-20, em Londres. E o trunfo maior do nosso respeito internacional, hoje, entre os próprios BRICS, vai à conciliação, entre a properidade e a absoluta mantença das regras de jogo do regime democrático.


Jornal do Commercio, 24/4/2009