O Natal é, das festas populares, aquela que tem um significado sem apoio na razão. É um mistério jamais desvendado, que somente se apoia na fé e no dogma. Só ela nos faz recolher deste dia tudo de transcendente que é a aliança de Deus com os homens. Deus, senhor de todas as coisas e do mundo, manda a este planeta azul um menino, seu filho, para que não estejamos sós na face da Terra. Ele nos dará confiança e apoio nas nossas desilusões e nos ajudará a cantarmos as aleluias de ação de graças nas nossas alegrias.
Este menino, que Fernando Pessoa viu na sua aldeia, feito homem deseja transformar o mundo não pelo uso de seus poderes, mas pelo aprendizado de viver praticando o bem.
Cristo não foi um teólogo nem um sábio. Foi um homem de origem rural, das parábolas sobre plantas e animais. Pregou coisas simples, entendidas facilmente. “Todos somos irmãos, porque todos somos filhos de Deus”. “Amai-vos uns aos outros e ao próximo como a ti mesmo”. “Perdoai os vossos inimigos”. “Amai a Deus acima de todas as coisas”. Esse menino veio para mudar os homens.
O tema de Natal eternizou-se na música desde os cânticos do século 5º até os oratórios de Bach. E também na vasta literatura dos livros de orações, de poemas, contos e passagens construídas nos grandes romances. Na literatura do hemisfério norte, principalmente nos países nórdicos, é um tema obrigatório, porque ele chega debaixo da neve, do frio e de noites baças. Mas eu guardo indelével o maior de todos os contos de Natal, que é de Dickens, este escritor das crianças abandonadas e sofredoras das ruas de Londres.
No centenário (1945) da Livraria Universal, do Maranhão, encontrei em espanhol “Contos de Natal”, e aí li as cinco partes que ele escreveu, com personagens inesquecíveis. O avarento Scrooge e seu sobrinho: “Que direito tens de estar alegre nesta noite? Que direito tens de te alegrar? És bastante pobre”. E ele responde: “E que razão tens de estar triste e cabisbaixo? Sois bastante rico”. E insiste na celebração do Natal.
Seu tio responde: “Celebra o Natal do teu modo e deixa que eu celebre do meu”. Dickens recria em sequência os Natais nos espíritos do passado, do presente e do futuro. Celebra-se em todo o mundo esta noite em que Deus fez sua aliança com os homens. Ele veio através de um menino que está dentro de todos os meninos do mundo. E a vida que nos leva a envelhecer é essa graça de Deus que nos fez nascer meninos, irmãos do Menino Jesus. Aleluia, santo, santo, santo é o Senhor.