Acho que todos nós a quem Deus deu a graça da vida já passamos muitas vezes pelo anúncio de que o mundo ia acabar. Algumas vezes marcavam data, outras vezes invocavam as profecias de Nostradamus ou de outros profetas menos votados. Nostradamus, desde 1555, quando escreveu seu livro Profecias, assusta a humanidade.
Estou como no mosteiro de um ermitão em minha casa de Brasília, minha mulher feliz porque eu não saio de casa há 20 dias. A TV é só catástrofe, e o medo é o sentimento que circula em todos os corações. Principalmente no meu, a 20 dias de completar 90 anos de idade.
Já passei também por outro anúncio do fim do mundo, na minha querida cidade de São Bento, este com data marcada, as casas com cruzes riscadas em carvão atrás das portas para espantar o diabo. Felizmente a data passou e ainda assisti a muitos anos passarem. Impossível chegar a 3.979, ano final das profecias de Nostradamus.
Mas, bom humor à parte, estou profundamente apreensivo. Porque do mundo acabar sempre temos notícia, mas da humanidade acabar é a primeira vez que presencio. E este momento não é profecia, tem lógica, porque muitos livros já o aventaram com a ameaça das doenças desconhecidas, que podem chegar e cortar a história do homem na face da Terra.
Quem não acredita em Deus pode aceitar isso. Nós, cristãos, não, porque então seria, como dizia S. Paulo, “vazia a nossa fé”.
Mas acredito que o mundo será diferente depois da crise do Coronavírus. O Homem terá que pensar em modificar esse tipo de sociedade consumista e de sublimação dos prazeres, para pensar num mundo mais fraterno, mais humano e com maior justiça social. Foi essa a mensagem do Papa, na bênção Urbi et Orbi, na semana passada. Quando o vi atravessando a Praça de São Pedro, só e frágil debaixo de chuva, senti que a solidão a que estamos forçados, afastados inclusive das missas e da comunhão, é uma travessia para um mundo com o mandamento que Jesus nos deu: o do amor. Como dizia São Paulo: “O que fica agora é fé, esperança, amor — estas três coisas. Mas destas a maior é o amor.” (1Co, 13, 13)
A sociedade de comunicação, virtual e destruidora de valores morais, dará lugar a uma utopia realizada de caridade, justiça e igualdade.