É crescente o nosso mal estar — ou mau humor — e a culpa pode ser mais uma vez atribuída à presidente Dilma. Uma pesquisa que acaba de ser publicada pela repórter Érica Fraga revela que há nove anos o brasileiro não era tão infeliz quanto nesse primeiro trimestre de 2015. Ao resultado, conhecido como “índice de infelicidade”, se chega numericamente pela soma das taxas de inflação e desemprego, o que provocou nesse indicador, também chamado de “índice de miséria”, um salto de 13,5 para 15,5 pontos nos primeiros meses do ano, o maior desde o fim de 2005. A pior notícia é que a situação não vai continuar assim. Como os dados são conseqüência da crise econômica, cuja tendência é permanecer ou se agravar, a previsão é que a insatisfação da população vá crescer na mesma proporção em que aumentar a impopularidade do governo, que é das mais altas. A rejeição já impede Dilma de se apresentar em público numa simples cerimônia de casamento, como madrinha, sem ruidosas manifestações de vaias e panelaços.
Assim, ela terá mais problemas com que se preocupar, além dos que oferecem o deputado Eduardo Cunha e o senador Renan Calheiros, aliados insaciáveis que dispensam inimigos, pois vivem criando-lhe dificuldades com exigências e cobranças. Agora, por exemplo, esperavam da presidente represália contra o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que incluiu o nome deles no parecer enviado ao Supremo Tribunal Federal como suspeitos nas investigações da Operação Lava-Jato (no caso do deputado, o procurador afirmou ter encontrado ”elementos muito fortes” para investigá-lo).
Derrotada frequentemente no Congresso e tropeçando muitas vezes na governabilidade, Dilma vive uma melancólica solidão. Curiosamente, um dos poucos lugares onde não é hostilizada, mas até compreendida, é junto a alguns tucanos. Ainda esta semana, por exemplo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, falando para uma platéia de investidores em Nova York, evitou criticá-la. “Esses malfeitos”, disse, usando uma palavra que foi popularizada por Dilma, “vêm de outro governo, isso deve ficar bem claro. Vêm do governo Lula”. Também o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, evitou fazer críticas diretas à presidente e a tratou tão bem que precisou desmentir que ele e FHC façam parte de uma ala moderada que estaria buscando uma conciliação com o governo do PT. Eles negam essa hipótese, mas o ex-presidente não afasta a necessidade de “algum grau de entendimento” para que o país saia da crise econômica e política.
Talvez só falte combinar com Lula.