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Nossa política inovadora no Oriente Médio

 

O discurso do ministro Patriota tem sido exemplar no delineio dos rumos da política externa brasileira no Oriente Médio. E tal a partir do possível questionamento de uma mudança frente ao Irã e à liderança assumida pelo Brasil e a Turquia, desde 2009, contra o isolamento do governo dos aiatolás na nova globalização. A nossa presença no cenário mediterrâneo nasce da multiplicidade de perspectivas que se pode permitir o país no quadro dos BRICs, no peso crescente de sua voz fora dos nichos clássicos da América Latina, ou das antigas periferias ocidentais.

Predomina no apoio a Teerã o reformular-se os espectros possíveis de uma guerra nuclear, tendo-se em vista, sobretudo, - e o que é pouco proclamado - o poder atômico de Israel e a catástrofe de toda retaliação na área. A audiência do Irã na ONU atuaria também para dissipar a desinformação, na seqüência também da massa de inverdades que levaram à crença de armas letais pelo Iraque. Só se redobram, aliás, as manifestações hoje contra a mentira concertada, que levou ao abate de Saddam Hussein por uma confessa mistificação da opinião pública.

Diante da lamentável escalada de prisões e execuções do regime, de Ahmadiriejad, a arguição prévia dos Direitos Humanos à melhoria de relações com Teerã não poderia deixar de ser invocada. Mas não se dissocia do clamor inicial de Lula contra os insulamentos contemporâneos, mormente quando saímos dos confrontos bilaterais absorventes característicos da Guerra Fria.

A herança de tal época é, até hoje, o gueto norte-coreano, no desconhecimento de sua efetiva reserva bélica, de gatilhos até hoje fora do controle das Nações Unidas. Nem, por outro lado, o Brasil afastou-se da realpolitik de balanço comercial com o Irã, no distinguir o que poderia permanecer sempre como uma relação bilateral, da pressão pela audiência do governo dos aiatolás na ONU.

Do outro lado do mundo, a rejeição à convivência global vai às facções radicais do Partido Republicano nos Estados Unidos, nostálgico do clima da denúncia dos países ditos "nefastos" ou das nações rogues, a ser alvo da destruição sumária pelas lideranças do mundo hegemônico de nossos dias. 

O terremoto político do Oriente Médio só encarece a oportunidade da voz brasileira na ONU para a escuta iraniana. Os radicalismos podem, em toda a área, seguir-se à queda dos regimes autoritários. Nesta direção encontra o Brasil o imperativo americano em reequilibrar o diálogo, e não seria outro, senão Israel, o primeiro interessado diante do espectro de novas revoluções islâmicas no mundo árabe.

A audiência do Irã dentro das Nações Unidas serviria, também, de desagua-douro à sua tensão interna, que só favoreceria a re-radicalização dos aiatolás. Tal, em momento, inclusive, em que as suas forças liberais, brotadas a duras penas, as de Khatami ou Moussavi, estão em prisão domiciliar e ameaçadas de perda de suas vidas.
O risco da regressão fundamentalista ronda toda a crise árabe. E nenhum país aponta melhor a este desfecho do que o cenário já aberto por Khamenei aos caminhos que começa a trilhar a Fraternidade Muçulmana, saída do silêncio no Egito.

 
 Jornal do Commercio (RJ), 11/3/2011