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Nós mudamos com o mundo

 

O mundo nunca mais será o mesmo. Não é porque Joe Biden renunciou ou porque Trump deixou de ser a barbada que foi até muito recentemente. Ainda menos por causa do eventual sucesso de Kamala Harris, com o qual nós todos contamos.

Daqui a pouco vamos entrar no fim desse ano de 2024. Distribuiremos os presentes familiares e torceremos para que um deles (os familiares, claro) se lembre de mim e me convide para uma daquelas ceias entre nós mesmos, um ceia familiar onde certamente me sentirei feliz por estarmos com a família querida e mais ainda num momento em que precisávamos tanto.

É esse o meu futuro imediato. O do Mundo é bem diferente, embora ainda possamos influir bastante em suas circunstâncias.

Daqui a pouco começaremos a distribuir os presentes de Natal, pensando em onde vamos celebrar o Ano Novo e, se não tivermos em vista uma mesa familiar generosa, vamos consultar os amigos para saber com quem podemos contar.

Sozinhos é que não passaremos o Ano Novo, já nos sucedeu em tempos de Covid.

Temos ainda que passar pelos meses de agosto, setembro, outubro, novembro e finalmente dezembro, desde o início do qual consideraremos que o ano está praticamente encerrado. Encerrado para eles; para mim, nunca.

Pois meus planos começam agora e não podem ser confundidos com essa coisa risonha de o Mundo virar uma simpática reprodução indefinida de um Paraíso como aquele que os cristãos tentaram nos provar que existia através de seus Papas, logo que tomaram Constantinopla para conquistar um pedaço da Itália, aquele berço de civilização.

O Mundo não mudou, embora jamais seja o mesmo. Fomos nós que mudamos, a respirar esse ar cada vez mais cheio de veneno, esse ar encorpado pelos Mestres de nossas cabeças que seguem inventando emoções Olímpicas.

O que me faz falta de verdade é Flora, capaz de me dizer tudo isso com graça e leveza. Juro que já pensei em ter mais filhos, todos lindos e sábios. E com eles ser feliz para sempre! Para sempre? Mas para sempre talvez se esgote logo, quem sabe na semana que vem. Já que o amor não tem prazo, que não tem nada a ver com suas próprias dores.

Foi justamente em um debate que a fragilidade de Joe Biden ficou escancarada (via satélite) para o mundo todo. Ele atribuiu num primeiro momento a Deus a solução da crise. Quando pessoas que almejam o poder atribuem a Ele uma intervenção por estarem vivos, temos que ficar atentos.

Que bom que ele só precisou do bom senso humano para tomar sua decisão.

Como escrevi em outra coluna, melhor resolver essa parada por aqui mesmo, entre nós mesmos.

O Globo, 04/08/2024