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No mesmo barco

 

RIO DE JANEIRO - A presidente do Supremo Tribunal Federal foi assaltada numa vinda ao Rio. Não se tratava de um desafio ao Poder Judiciário, como alguns chegaram a pensar. Era apenas um episódio comum da comum violência a que estamos habituados.


Agora, um ministro do governo, em visita a um amigo em Ibiúna, ficou refém durante horas de bandidos que desejavam dinheiro e jóias, sem nenhuma preocupação de contestar o Estado, que, aliás, nem precisa ser contestado, dada a sua ineficiência no combate ao crime organizado e ao crime desorganizado, avulso, artesanal.


A sociedade ficou traumatizada com a recente morte do menino esfacelado nas ruas do Rio. Editoriais na mídia, cartas de milhares de leitores, manifestações de rua e até mesmo no Sambódromo, durante o Carnaval, expressaram o horror provocado pela barbaridade dos criminosos.


Mais eloqüente do que o horror da sociedade foi a perplexidade, a consciência coletiva de que não se sabe o que fazer para acabar ou ao menos diminuir a onda de violência que o presidente Lula, ao tomar posse de seu segundo mandato, classificou como terrorismo.


Não faltam sugestões bem-intencionadas, daí que não engrossarei a turma de palpiteiros. Diminuição da maioridade penal, pena de morte ou de prisão perpétua, solução racional para o sistema penitenciário, participação das Forças Armadas no combate ao crime, aceleração dos processos no Judiciário, mais verbas para a educação e para o ensino fundamental, reforma dos códigos que regulam a sociedade -tudo foi e continua lembrado, provocando polêmicas que alimentam a inércia operacional do Estado.


Não foi um ministro que ficou refém dos bandidos. Todos somos reféns de fato e vítimas potenciais do terrorismo.


Folha de S. Paulo (SP) 27/2/2007